Consumo se transforma em espaço de debate político, moral e ético, apontam pesquisadores

23/09/2008 - 14h12

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A transformação do consumo em questão política é um dos temas que serão abordadas no 4º Encontro Nacional de Estudos de Consumo (Enec), que será aberto amanhã (24), na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O evento é promovido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Falando hoje (23) à Agência Brasil, a professora Laura Graziela, do Departamento de Antropologia da UFF, afirmou que a política foi para o consumo. “Se ela antes estava na produção, agora ela foi para o consumo. E este está se tornando um campo de debate político muito importante, abrangendo os movimentos de consumidores, o controle alimentar, por exemplo. Então, você tem uma tendência importante, que é a politização do consumo”.

Laura Graziela observou que cada vez  mais  o consumo deixa de ser uma  questão de escolha individual das pessoas.  “Elas estão usando o consumo como uma forma de demonstrar publicamente as suas escolhas ideológicas, morais, políticas”.O consumo está cada vez mais se tornando  um lugar de debate moral  e ético importante, apontou a antropóloga.

Segundo enfatizou Graziela, o consumo deixou de ser uma coisa “alienada, onde cada um faz o que quer”, para se tornar  um campo de debate.  Com isso, o consumidor  está mais consciente não só dos seus direitos, mas também de suas obrigações.  “Isso está claro em várias questões relacionadas ao meio ambiente, como a segurança alimentar”, destacou.

“O consumo assumiu uma proporção extremamente importante. Ele não é mais uma coisa somente de capricho, de desejo, embora  ainda exista o lado do consumo supérfluo, do consumismo”.Mas, em linhas gerais, pode-se dizer que o consumo  adquiriu um viés político. Graziela observou que a transformação do consumo não é um fato brasileiro apenas, mas se verifica em todo o mundo. “Começou com a questão das políticas ambientais, da poluição, depois com a segurança alimentar. No Brasil, com a questão dos transgênicos. É uma tendência mundial. Não é uma coisa só do Brasil, nem dos países superdesenvolvidos. Há toda uma tendência nesse sentido”.

Por isso, os pesquisadores da UFF, UFRRJ e ESPM  realizam os Encontros Nacionais de Estudos de Consumo a cada dois anos para debater  as tendências do consumo  com um número maior de pessoas, inclusive em termos de movimentos sociais.

Participam desta edição dois convidados estrangeiros -  a professora Michele Micheletti, da Karlstad University, da Suécia, especialista em consumidor político e consumo consciente; e Richard Wilk, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, que fará a palestra de encerramento sobre as perspectivas e dilemas da sociedade contemporânea e o consumo. Eles vão compartilhar  com os especialistas brasileiros o que está sendo discutido em outros fóruns fora do Brasil. O 4º Encontro Nacional de Estudos de Consumo  (Enec) se estende até o dia 26.