Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O governo brasileiro tem que voltar a controlar asoperações de câmbio para minimizar os efeitos dacrise financeira internacional sobre o país e impedir que hajamovimentos “convulsivos de entrada e saída de recursos quedesarrumam toda a economia”. A opinião é do economista CarlosLessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômicoe Social (BNDES). Em entrevista à Agência Brasil, hoje(22), ele disse que a adoção de uma políticacambial teria que ser a primeira providência do governo diantedo cenário de crise econômica que se desencadeou apartir de problemas no setor imobiliário norte-americano.
Para ele, uma medida interessanteseria fazer o registro de entrada de capital estrangeiro e nãoautorizar a permanência desse capital no Brasil por períodosmuito curtos. “Ou seja, reduzir as resistências cambiaisbrasileiras ao que é de fato nosso. E a razão muitoforte para isso é a seguinte: eu tenho muito medo de que amaneira como essa crise foi enfrentada lá fora seja um poucotransferida a conta para a periferia. E o Brasil é periferia”,explicou Lessa.
Outra iniciativa seria impedir queos importadores mantenham suas contas em dólares no exterior.“Obrigá-los a registrar no Brasil, como era antigamente. Énecessário ter uma política de grande cautela ereforçar as salvaguardas cambiais brasileiras”, recomendou.
Além dos US$ 700 bilhõesanunciados pelos Estados Unidos em socorro aos bancos, Lessa lembrouque o governo norte-americano já havia injetado US$ 1,5trilhão em seu sistema financeiro. Ele afirmou que os EstadosUnidos não dispõem da quantia destinada aos bancos eque, para tanto, terão que emitir títulos de dívidado Tesouro. Lessa considerou que “forçar o Brasil a ficarcomprando esses títulos de dívida do Tesouro americanoé péssimo”.
A sugestão do economista éque o Brasil reduza o peso da dívida do Tesouronorte-americano em sua carteira de reservas internacionais. ParaLessa, o governo deveria lançar mão de parte dessasreservas para readquirir ações da Petrobras e damineradora Vale, que, na sua opinião, vão sedesvalorizar no mercado exterior, tendo em vista o tamanho da crisedo ponto de vista financeiro.
Outra medida sugerida por Lessa, aser adotada pelo governo brasileiro é não permitir aexpansão “veloz e quase irresponsável” doendividamento das famílias, com as compras financiadas delongo prazo a juros muito altos. “Porque isso gera dentro do Brasiluma vulnerabilidade, um tipo de bolha que pode ter conseqüênciassociais muito ruins. Porque se a economia não crescer, opessoal que está endividado vai ter muita dificuldade parapagar”.
O ex-presidente do BNDES disse aindaque o governo deveria fazer uma política de créditomais seletiva, favorecendo o crédito ao investimento eregulando de uma forma mais racional o crédito para consumo delongo prazo.
“Não é possívelficar estimulando a continuidade desse festival de vendas a longoprazo de bens de consumo”, disse. Essa é, segundo ele, umaconseqüência da falsa afirmação de que oBrasil nunca esteve tão bem.
“As pessoas deveriam estar botandoas barbas de molho, porque a economia não vai crescer no anoque vem. O Brasil já vai estagnar de novo”, previu. Lessaavalia que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que é asoma das riquezas produzidas no país, não vai crescermais do que 2% no próximo ano.
O que justifica essa previsão,segundo ele, é o recuo no número de projetos deinvestimentos por parte do empresariado. Segundo Lessa, atéque o cenário econômico-financeiro internacional fiquemais claro, as incertezas em relação à criseexterna vão produzir no Brasil uma redução docrescimento em 2009. “O crescimento vai ficar, mais uma vez, em umvôo de galinha”, concluiu.