Economista alerta que é irresponsabilidade afirmar que país está imune à crise

22/09/2008 - 14h43

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O economista CarlosLessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômicoe Social, disse hoje (22) que embora a economia brasileiraexperimente um momento favorável, como não ocorria hámuitos anos, o governo não pode cometer a irresponsabilidadede afirmar que o país está imune à atual crisefinanceira internacional.“É verdade. OBrasil está hoje numa situação melhor do queesteve em outras crises. Também, alguma coisa nóstínhamos que ganhar com 25 anos de estagnaçãoeconômica. Estamos mais robusto um pouco, mas se nãotomar cuidado a gente se enfraquece logo”, alertou.De acordo com oeconomista, a crise internacional é o resultado de mais de 30anos de expansão financeira “progressivamente desregulada”,com uma multiplicidade de ativos financeiros que nãocorrespondem ao desenvolvimento da base produtiva. “É o que nóschamamos de uma bolha. E a bolha, quando explode, deixa praticamentenada”, disse.Ele avalia que asconseqüências que isso terá para o Brasil estãocondicionadas ao controle da crise financeira externa, que nãogere uma depressão. Lessa prevê que ocrescimento da economia mundial vai cair, começando pelosEstados Unidos e depois a China, com rebatimento sobre o Brasil. “Mas, uma coisa éa crise mundial gerar um crescimento medíocre e outra coisadiferente é uma recessão mundial. Recessão émuito grave. Vamos torcer para que fique somente numa reduçãodo crescimento”, disse.Para o economista, essaqueda do crescimento econômico terá reflexos diretamentenos preços dos produtos exportados pelo Brasil, comconseqüências sobre a receita cambial brasileira. “Essas implicaçõesfinanceiras serão piores ou não tão ruins,dependendo da política econômica que o governo federalvier a fazer. Eu estou muito espantado com os anúncios, quaseque arrogantes, de que o Brasil está muito bem, que o Brasiltem como enfrentar a crise”. Na avaliaçãode Lessa, “isso é de um otimismo que beira airresponsabilidade, porque as nossas empresas que pegaram recursosfora não vão poder renovar esses recursos simplesmenteporque a liquidez mundial cai violentamente”.Ele avalia ainda que háuma grande fatia de capital especulativo que veio para o Brasil e queserá puxado para fora, pressionando a taxa de câmbio.Com isso, segundo Lessa, o governo será obrigado a segurar ocâmbio. “E para isso terá de fornecer dólares aessas saídas para o Brasil, contribuindo para reduzir asreservas internacionais”.Lessa disse que vêcom preocupação “praticamente nenhuma movimentaçãogovernamental para mudar a política econômica, parasegurar o pior desse processo”.