Ministro diz que PF tem coragem de "cortar na própria carne", ao prender delegado

17/09/2008 - 15h36

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ministro da Justiça,Tarso Genro, disse hoje (17) que a Polícia Federal merece todoo respeito da sociedade porque teve a coragem de “cortar na própriacarne” ao investigar, pedir a prisão e prender o segundo homem desua hierarquia, o delegado Romero Meneses, que ocupava o cargo dediretor-executivo da corporação.“A PolíciaFederal tem a coragem de atacar os seus próprios erros – seé que o delegado Romero cometeu ilegalidades – e aplicarduramente a ordem judicial e fazendo um inquérito muitoprofundo como será esse. É evidente que as pessoasficam perplexas e dizem o seguinte: como é que uma pessoa queestava na direção da Polícia Federal cometeu umailegalidade desse tipo? Para responde isso temos que esperar o fimdo inquérito. No entanto, acho que a síntese émuito positiva porque demonstra que, para a Polícia Federal, nãohá ninguém acima da lei”, disse o ministro.Tarso disse que chegoua conversar com o delegado Romero Menezes na noite de ontem, logodepois que ele conseguiu um habeas corpus, concedido peloTribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), sediado em Brasília. “Dissea ele que, como todos os indiciados pela Polícia Federal, elemerecia o benefício da dúvida, mas que o inquéritoiria ser exemplar, até em homenagem a sua conduta de 30 anosna Polícia Federal. Ele me respondeu dizendo que eu poderiaficar tranqüilo que, como pessoa que tem responsabilidade sobrea Polícia Federal, que ele iria comprovar sua inocência”,disse o ministro.O delegado explicou aoministro que os atos praticados por ele na condução daOperação Toque de Midas, alvo do inquérito,decorreram da própria natureza das funçõesexercidas por ele, como delegado fa Polícia Federal.O delegado Romero Menezes foi preso ontem (16) sob a suspeita de ter vazado informaçõessobre a Operação Toque de Midas, que apurou possíveisfraudes no processo de licitação para a construçãode uma estrada de ferro no Amapá. No processo, movido pelaProcuradoria Geral da República, Menezes é acusado deadvocacia administrativa (uso pelo servidor de sua condiçãopara obter vantagens em proveito próprio ou de terceiros),corrupção passiva, formação de quadrilhae tráfico de influência.Ontem, Romero Menezesjá prestou depoimento à Polícia Federal. Tarso Genro disse que não háa possibilidade de o delegado, em liberdade, interferir na conduçãodo inquérito. “A possibilidade de interferência ézero. Ele não exerce mais nenhuma função naPolícia Federal. Eu mesmo o afastei”, disse Tarso Genro,que informou ainda que o delegado poderá responder a mais deum inquérito. “Se houver suspeitas de que houve vazamento deinformações será um inquérito, que nãoserá o mesmo que vai apurar as acusações deadvocacia administrativa”, explicou. A OperaçãoToque de Midas foi realizada em julho deste ano pela PF nos estados do Amapá,Pará e Distrito Federal. Ontem, tambémforam presos o irmão de Romero, José Gomes de MenezesJúnior, além de Renato Camargo dos Santos, diretor daempresa EBX, uma holding (conglomerado de empresas) controlada pelo empresário EikeBatista. A vencedora da licitação foi a empresa EBX.O cargo de Menezes jáestá ocupado interinamente por Roberto Ciciliatti Troncon Filho,diretor de Combate ao Crime Organizado da PF. Troncon Filho ressaltou que,não há "prova cabal", contra Romero, mas que suaprisão foi necessária, porque ele poderiaprejudicar as investigações no exercício de seucargo. A prisão do delegado tinha caráter temporáriode cinco dias.