Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O agravamento da crise política na Bolívia pode ter repercussões no Brasil e, para evitar qualquer instabilidade política na América do Sul, o país precisa oferecer apoio com o envio de tropas à fronteira, caso haja pedido do governo boliviano nesse sentido. Essa é a opinião do historiador Moniz Bandeira, que, em entrevista à Agência Brasil, disse temer uma eventual secessão do país, tendo, de um lado, osdepartamentos aliados do presidente Evo Morales e de outro, governadoresoposicionistas das regiões mais ricas.“A secessão da Bolívia será um duro golpe para o Brasil e sualiderança na América do Sul, e isso terá influência internacional”, afirmou. Um dos riscos, segundo ele, é o território rebelde, formadopelas províncias mais ricas, proclamar-se autônomo e pedirreconhecimento internacional, com apoio dos Estados Unidos. “Creio queos americanos poderiam fazer isso e o Brasil não pode deixar.”Para Bandeira, os conflitos são incentivados por companhiaspetrolíferas estrangeiras, interessadas nos campos de petróleo e gás dopaís, mas também têm um fundo histórico e cultural. “Há uma tendênciaseparatista que é muito antiga, existe preconceito étnico e a economiase desenvolveu mais em um lado do que em outro”, explicou.O historiador também vê influência direta dos Estados Unidos sobrea região, onde diversos governos de esquerda vem sendo eleitos, a exemplo do Brasil, Venezuela, Bolívia,Equador e Paraguai.“Isso só é possível porque os Estados Unidos estão perdendo suainfluência e não têm mais a força de antes. A hegemonia americana estádesgastada e chegando ao fim”, sustentou. De acordo com ele, os planosdos Estados Unidos para a América do Sul não devem ser alterados com a mudança de comando, seja Barack Obama ou JohnMcCain o próximo presidente. “Não muda porque os interesses dogoverno [norte-americano] são imensos. A economia americana está vivendo da guerra e aindústria bélica necessita do financiamento do Estado para manter suaprodução”, afirmou.Bandeira tem mais de 20 livros publicados sobre geopolítica ehistória da América Latina. O último está sendo lançado com o título Fórmula para o caos - A derrubada de Salvador Allende, que conta a história do período político do Chile, que culminou com a morte do presidente que dá nome à obra, durante o golpe liderado pelo general AugustoPinochet, em 1973.Segundo ele, o mesmo está sendo feito contra a Bolívia. “É afórmula para o caos, sempre usada pela CIA [serviço secreto americano]para criar as condições objetivasde um golpe de estado”.