Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O padre Luiz AntônioBento, da Comissão Episcopal para a Vida e a Família daConferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou hoje(26) na audiência pública no Supremo Tribunal Federal(STF) sobre a interrupção de gestaçõespor anencefalia, que não é “indiferente” àsdificuldades enfrentadas por mães que carregam no ventre fetosanencéfalos, mas ressaltou que o sofrimento familiar “nãojustifica e nem autoriza o sacrifício” da criança. Ele avaliou a matériacomo “delicada”, mas elogiou a abertura do Judiciário aoouvir os diferentes pontos de vista. “Defendemos ahumanidade deste ser humano que está em gestação,ainda que com a má-formação. Quando a vida nãoé respeitada em seu início, outros direitos sãomenosprezados. O feto anencéfalo é um ser humanovivente. Uma anomalia não nega ou diminui a dignidade dapessoa. Ela é intrínseca”, defendeu.Luiz Bento é deopinião que alguns segmentos da sociedade buscam a“eliminação” do feto diagnosticado anencéfaloporque não corresponde a determinados padrões da vidahumana. De acordo com o padre,a interrupção desse tipo de gestação éum tipo de aborto, além de considerar como uma “açãodiscriminatória e racista” e uma espécie de“eutanásia pré-natal”.“Há um grupode cientistas que defende a possibilidade de uma consciênciapré-primitiva nesses indivíduos. Marcela de Jesus [bebêdiagnosticado com anencefalia que sobreviveu por um ano e oito meses]é o exemplo de que a medicina ainda tem muito a aprender com aanencefalia”, disse.O professor daFaculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal doRio de Janeiro Rodolfo Nunes reconheceu em seu depoimento que aanencefalia caracteriza-se como uma doença fatal, mas que nãoé a única dentre as demais patologias e enfermidades.Ele acredita que o próprio termo anencefalia induz aoerro, já que os bebês diagnosticados têm uma parte do encéfalo. “Anencefalia nãoequivale à morte encefálica. A criança com anencefalia,quando está respirando, não está com morteencefálica. Apesar da mortalidade elevada, algumas criançaspodem sobreviver por meses ou mesmo anos. Não existem estudosprofundos sobre a parte do encéfalo não comprometidapela anencefalia. Existe muita coisa que não se explica. Porisso, tem que se ter prudência”, defendeu.Quando questionadosobre a possibilidade de Marcela de Jesus ter sido erroneamentediagnosticada com anencefalia, ele disse que laudos de tomografias ede ressonâncias magnéticas, além de fotografiasclínicas, confirmam o caso e abrem espaço paraquestionamentos sobre a sobrevida de fetos nas mesmas condições.A mãe da menina,Cacilda Galante Ferreira, garantiu que não se arrependeu dadecisão de dar continuidade à gestaçãomesmo após o diagnóstico, e que ao final a decisão“valeu a pena”.“Deixei a gravidezseguir. Não importava se ela ia nascer e ficar um minuto ou umsegundo de vida comigo. O importante era deixar ela viver o tempodela. Minha felicidade era tanta que eu nem sei explicar o quanto. Euvivia cada segundo dela, aproveitei mesmo o tempo junto dela. E Deusfoi tão generoso que deixou ela comigo por um ano, oito mesese 20 dias”.Para Marlene RossiSeverino, representante da Associação Médico-Espíritado Brasil (AME), não deve haver discussão sobre odireito da mulher quando se fala em um direito que, segundo ela, sesobrepõe à todos, o direito à vida.“O acaso nãoexplica a vida. A vida é um bem outorgado, indisponível,e isso não é a religião que diz, mas a ciência”.