Reduzir diferenças entre campo e cidades é desafio para desenvolvimento chinês

18/08/2008 - 9h17

Mylena Fiori
Enviada Especial
Pequim (China) - A China é um país de oportunidades, mas ainda tem muito desafios internos a superar. Reduzir as diferenças é, certamente, um dos principais. Da população de 1,3 bilhão de pessoas, 737,42 milhões (56,1%) ainda vivem no campo e 577,06 milhões (43,9%), nas cidades. A distância não pode ser medida em quilômetros e, sim, em disparidade de renda e desenvolvimento.“Há vários desafios decorrentes do reposicionamento da China como um dos pólos de desenvolvimento e de influência mundial, entre eles os de interiorização mais equânime do desenvolvimento no território do país e o de consolidar o modo chinês de desenvolvimento”, avalia o economista Idaulo José Cunha, que foi vice-presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul.Os rendimentos dos moradores do campo não chegam a um terço do registrado nas áreas urbanas. Nas cidades, a renda per capita é de 8.065 yuans por ano (o equivalente a cerca de R$ 2 mil), contra 2.528 yuans (em torno de R$ 650) nas áreas rurais. Mas também há grandes contrastes regionais. A costa oeste é a zona mais próspera do país, onde estão instaladas as empresas privadas e as atividades voltadas ao comércio internacional.Segundo dados do Banco Mundial, as áreas urbanas geram 60% do Produto Interno Bruto (PIB) da China e respondem por 85% do crescimento da economia do país, o que significa que o desenvolvimento sustentável com redução da pobreza depende da economia das cidades.Ainda de acordo com a instituição, a migração da força de trabalho rural para indústrias e serviços urbanos contribuiu para cerca de 10% do crescimento econômico chinês nos últimos 20 anos. “Outro desafio não–trivial do governo chinês é o de preparar cidades e metrópoles para acolher o grande fluxo de migrantes rurais nos próximos anos, cerca de 150 a 200 milhões de habitantes”, ressalta Idaulo Cunha.Ele cita, ainda, como ponto crítico para a continuidade da expansão da economia chinesa o controle da poluição dos solos, da água e do ar, cuja solução, na avaliação do economista, está vinculada ao avanço para o ingresso mais amplo na sociedade do conhecimento.Por fim, Idaulo Cunha cita a abertura política – uma das demandas mais insistentes de lideranças e da imprensa mundial – como um dos mais complexos desafios da China nos próximos decênios. “Simplesmente replicar na milenar civilização chinesa o modelo ocidental de democracia, vigente há poucos séculos, com diferentes modelos nacionais e com imperfeições, será um erro primário. A própria China necessita de encontrar caminhos, estratégias e definir os momentos adequados para evitar o retorno dos ciclos de revoltas e contestação ao governo central, divisão do poder e disputas regionais”, avalia.