Para especialista, sustentabilidade é critério para empresas gerarem negócios e lucro

14/08/2008 - 17h16

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A sustentabilidade como condição para gerar negócios para as empresas será um dos temas do 20º Congresso da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Nacional), que será realizado no Rio de Janeiro, de 20 a 22 de agosto.

Em entrevista hoje (14) à Agência Brasil, o diretor de Sustentabilidade da Apimec, Roberto Sousa Gonzalez, afirmou que a aplicação desse conceito pela totalidade das empresas brasileiras ainda é muito reduzida. “Mas é um processo de crescimento”, analisou.

Em 2001, o primeiro fundo de investimento focado em sustentabilidade constituído no país, o Ethical, foi lançado com patrimônio de R$ 3 milhões. Hoje, tem cerca de R$ 750 milhões de patrimônio, investidos em 23 companhias. Toda a indústria desse tipo de fundo de investimento no Brasil soma R$ 2 bilhões de patrimônio. “É muito pouco ainda”, afirmou.

Para Gonzalez, deve haver uma maior disseminação dos fundos de investimento sustentáveis, com a definição de critérios específicos para seu funcionamento. Ele lembrou que o Fórum Latino-Americano de Finanças Sustentáveis (LASFF), cuja sede no Brasil é a Fundação Getulio Vargas, tem um Comitê de Mercado de Capitais. Na sua opinião, todas as instituições que têm fundos sustentáveis deveriam ter assento no comitê.

Não é o que ocorre, segundo comentou, porque das nove instituições que têm fundos de investimento e foram convidadas a participar, apenas quatro responderam de forma afirmativa. “E somente duas têm uma participação bem atuante”, revelou.

Gonzalez avaliou que há necessidade de se ter alguns critérios balizadores do procedimento de investir, focado em sustentabilidade. “Até porque fundos dessa natureza não podem ser vistos como meros instrumentos de imagem e de marketing, mas sim como instrumento de gestão que agrega valor aos cotistas que acreditam nesse conceito e colocam dinheiro nesses fundos.”

Ele advertiu que é preciso, no entanto, fazer distinção entre sustentabilidade e assistencialismo. A primeira envolve não só meio ambiente, mas também questões como a social e a econômica. O congresso da entidade vai destacar as questões sócio-ambientais, bem como questões econômico-financeiras. Um dos painéis vai apresentar métricas de sustentabilidade, com debate sobre habilitação de fundos, o Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), e a realização de auditorias. Outro painel abordará a nova economia com as mudanças climáticas. “O analista tem que se preocupar com isso”,  recomendou.

A Apimec foi a primeira entidade do mercado financeiro a se preocupar com a sustentabilidade na análise de risco de um investimento, destacou o diretor. No encontro, será lançada a primeira edição do Guia de Introdução à Análise Fundamentalista com Sustentabilidade.

A publicação trará duas demonstrações para os analistas de investimentos. Uma se refere ao valor adicionado, ou seja, como a empresa gera riqueza e a distribui entre os seus públicos. E a outra traz informações sobre o balanço social do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), com indicadores internos, externos e de gestão. “Faz-se uma análise  desses indicadores, junto com a análise tradicional  fundamentalista, para você calcular o preço justo da ação”, explicou.

A publicação, segundo Gonzalez, é importante, principalmente, para o investidor individual decidir em que fundo pode aplicar seu dinheiro, baseado no conceito da sustentabilidade.  “Eu acredito, e grande grupo de pessoas acredita, que sustentabilidade não é modismo. Veio para ficar. E as empresas vão ter que  incorporar isso na sua agenda, na estratégia. Então, vai ser cada vez mais comum  você ter no Conselho de Administração das empresas um comitê que discuta tudo, à luz da sustentabilidade. E, com o passar do tempo, o conselho vai discutir todo e qualquer assunto, como  fusão, aquisição, inovação, na ótica da sustentabilidade”, previu.

Gonzalez estimou que, no futuro, o Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa não vai medir as empresas que são sustentáveis, como ocorre atualmente.  “Na verdade, ele vai medir as empresas que são mais sustentáveis. Porque  todas terão de ser sustentáveis”.