Especulação imobiliária expulsa artistas pioneiros de região de galerias e lojas famosas

14/08/2008 - 19h03

Mylena Fiori
Enviada Especial
Pequim (China) - Aespeculação imobiliária e o intenso movimento de turistas expulsaram doDistrito 798 pioneiros como o fotógrafo ShiGuorui, hoje famoso no mundo todo. Ele foi um dos 40 artistas que, navirada do milênio, levou seu ateliê/moradia para o antigo complexoindustrial no Noroeste de Pequim - região comparadapela mídia internacional com o Soho nova-iorquino, bairro no qual se concentram galerias e boutiques famosas. Desde o ano passado, viu-se obrigadoa buscar outro espaço. E encontrou ali pertinho, a cinco minutos doantigo endereço, a tranqüilidade que buscava para continuar seutrabalho de criação.“Nãovalia a pena ficar, encareceu muito e não tenho um espaço comercial,meu trabalho é criar”, justifica. Shi conta que o fenômeno do Distrito798 transformou a região num grande centro das artes. Além dos jáfamosos muros do Distrito, em terrenos baldios em torno de uma antigalinha de trem, novos núcleos artísticos explodiram de um ano para cá.Muitos foram construídos especialmente para abrigar ateliês, imitandoas fábricas abandonadas de Dashanzi. Ali estãoexilados do 798, artistas chineses que estavam fora do país eretornaram e até estrangeiros, como coreanos e japoneses. São mais de100 ateliês e algumas galerias e lojas.MasShi não gosta desse estilo artificial. O badalado fotógrafo chinêsescolheu um depósito recente, mas charmoso, para instalar o megalaboratório onde revela, seca e expõe as fotos gigantescas tiradas comuma câmera escura. O trabalho já rodou o mundo, de São Francisco aBuenos Aires, passando pela Bienal de São Paulo. Apesar de ter sidoobrigado a mudar de endereço, ele vê aspectos positivos nainternacionalização do Distrito 798. Um deles é o fato de trazer, paraPequim, a produção artística do mundo todo.“Aarte contemporânea da China é muito recente e ainda temos muito o quecaminhar. As galerias internacionais vêm para cá, mostram o que estásendo feito lá fora, trazem novas técnicas. Os chineses podem aprendercom isso e criar seu próprio caminho”, acredita. A transformação deDashanzi também permite maior visibilidade à produção de arte chinesa.“Antes do 798 era tudo muito mais difícil. Hoje, o mercado para a artechinesa é muito grande, há muitos colecionadores interessados”, revela.E confidencia que a cotação de suas fotos em negativo, tiradas em oitohoras de exposição, subiu de US$ 10 mil para US$ 45 mil. Com o sucesso,Shi passa apenas seis meses do ano em Pequim. O resto, gira o mundoexpondo e fotografando horas a fio – na agenda dos próximos projetos,Nova Iorque e Dubai.“Nosúltimos 10 anos, a economia chinesa está despertando a atenção do mundoe muitos países passaram a olhar para o que está acontecendo na China,o que as pessoas estão fazendo na China. Por isso o 798 se desenvolveue, por isso, cada pessoa que trabalhava aqui se beneficiou desselugar”, afirma. É assim que se move o gigante asiático.