Expectativa de queda em ações da Petrobras e da Vale tira investidor estrangeiro da Bolsa

13/08/2008 - 0h38

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A saída deinvestimentos estrangeiros da Bolsa de Valores de São Paulo(Bovespa) se deve à expectativa de reduçãodos rendimentos dos papéis da Petrobras e da Vale. Aexplicação é do economista e sócio da MCMconsultoria, Antonio Madeira. Dados daBolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) revelam que até o dia 7 deste mês, o saldo líquido deste ano, resultadoda entrada e saída de recursos externos, ficou negativo emR$ 15,418 bilhões.Para Madeira, os papéisdas duas empresas “passam por um momento difícil, tanto porfatores internos quanto externos”. Ele destacou que há percepção de que a economia mundial crescerámenos e, por conseqüência, a demanda por produtos daPetrobras e da Vale diminuirá. “O preçospoderão recuar e o mercado antecipa isso”. No caso do mercadointerno, Madeira afirma que os investidores estrangeiros apostavamque, com a exploração de petróleoabaixo da camanda pré-sal, os ganhos da Petrobras no futuroiriam aumentar. Entretanto, o governo estuda mudanças na Leido Petróleo para que recursos arrecadados com a exploraçãopossam ser empregados em favor da educação e na reduçãoda pobreza, como disse ontem (12) o presidente Luís InácioLula da Silva.O economista DécioMunhoz explica que apesar de o investimento estrangeiro em carteiracaminhar para o o terceiro mês consecutivo de saldos negativos(R$ 7,415 bilhões em junho, R$ 7,626 bilhões em julho eR$ 1,134 bilhões até o dia 7 de agosto) essesrecursos investidos em bolsas não entram para financiar a economia brasileira. “Sãorecursos que vêm para ganhos substanciais de curto prazo e vãoembora”.Para Munhoz, énecessário que se volte a ter regras de permanênciamínima desses investimentos. “Na época do Collor [presidente Fernando Collor de Melo]  removeram as regras para permitir que ocapital entrasse e saísse e operasse todos os títulos,inclusive derivativos cambiais, que é onde o Banco Central estáperdendo recursos ano após ano”, afirmou.Ele lembrou que noano passado o BC registrou prejuízos de cerca de R$ 48 bilhões, valor coberto com recursos do Tesouro Nacional.“Foi quase todo o superávit primário do ano passado”,disse. Na opinião do economista, deve ser revista tambéma “libertade do Banco Central” na atuação com os derivativoscambiais. Munhoz explica que o investimento estrangeiro em carteira pode pressionar dólarpara baixo, o que dificulta as exportações e atrai aentrada de produtos importados para o país. "É porisso que as importações estão crescendo”. O economista explicou,entretanto, que os investidores estrangeiros em carteira nãoconseguem deixar o país de uma vez. “A porta éestreita. Os primeiros saem, mas se todos correrem para comprar dólarpara ir embora o preço do dólar sobe e aí nãotem jeito”. Munhozafirma que o que interessa ao país é a aplicaçãode recursos com interesse duradouro na economia brasileria – oinvestimento estrangeiro direto (IED). O investimento estrangeiro emcarteira depende da conjuntura de curto prazo, ou seja, se háperspectiva de redução dos ganhos, os investidoresbuscam aplicações em outros locais. Emdocumento divulgado ontem , o Banco Central ressalta que “o capitalsob a forma de IED é alternativa saudável definanciamento, e tem garantido ingressos líquidos superioresàs remessas de lucros e dividendos, e capazes de financiarintegralmente os déficits em transaçõescorrentes [todasas operações do Brasil com o exterior]”. Segundo o BC, "o valor em dólares do investimento emações no país tende a subir em conjunturasfavoráveis e a cair em momentos menos favoráveis".