Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Brasil deve adotar ações urgentes para evitar que as mudanças climáticas afetem a agricultura nacional de forma significativa, como por exemplo impedir o avanço do desmatamento. Essa é uma das recomendações dos pesquisadores Hilton Silveira Pinto, da Universidade de Campinas (Unicamp), e Eduardo Delgado Assad, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no estudo “Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira”.
Falando à Agência Brasil, Hilton Silveira afirmou que o estudo tem o objetivo de alertar o governo e a sociedade brasileira como um todo para o fato de que as mudanças climáticas devem ocorrer, “com 95% de probabilidade” e, se nada for feito, o cenário pode não ser nada positivo.
“A idéia é fazer uma previsão de medidas tecnológicas para que isso não aconteça, no caso de os cenários estarem corretos”. Entre as medidas indicadas para a agricultura, ele citou a arborização dos cafezais, o plantio direto, a integração da pastagem com a lavoura.
Essas medidas, segundo Hilton Silveira, além de seqüestrar carbono da atmosfera, fazem com que haja uma proteção ao desenvolvimento agrícola. Ele lembrou que o efeito de adaptações, como o melhoramento genético, é também positivo.
Em relação ao desmatamento, ele destacou que a perspectiva de aumento da produção de biocombustíveis, como o etanol, vai ter que respeitar todas as regras do zoneamento da cana-de-açúcar no país. “Essas regras consideram a probabilidade climática de você poder cultivar a cana-de-açúcar nas diversas regiões do Brasil, desde que respeite a potencialidade dos solos, o zoneamento ecológico e econômico, as áreas de proteção permanente, as reservas indígenas e assim por diante”.
O pesquisador destacou, ainda, a necessidade de se respeitar as áreas de produção de alimentos básicos. Ele acredita que, no futuro, isso vai se tornar uma indicação governamental, uma política pública. E, com isso, vão sobrar apenas as áreas de cultivo de pastagens degradadas.
As emissões de gás carbônico (CO2) pela agricultura, somadas às do desmatamento de terras para cultivo correspondem a até 32% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa, de acordo com relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Atualmente, o Brasil ocupa a 4ª posição mundial na produção de gases do efeito estufa. Segundo Hilton Silveira, se o país conseguir conter o desmatamento, principalmente na área amazônica, poderá cair da quarta colocação no ranking mundial para a 18ª posição.Outro fator que diminuiria a contribuição do país para o aquecimento é o fim das queimadas.Para isso, ele destacou a necessidade de medidas governamentais no sentido de proibir essa prática.