Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Em parceria com aEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cercade 50 países da América Latina, Ásia e Áfricaestão participando de um projeto para aumentar o teorvitamínico de alguns alimentos, como a mandioca. O objetivo émudar o quadro nutricional no mundo, definido como “caótico”pelo pesquisador José Luiz Viana de Carvalho, da EmbrapaAgroindústria de Alimentos.Os pesquisadores já conseguiram aumentar dequatro microgramas por quilo para 12 microgramas por quilo o teor debetacaroteno nas raízes da mandioca. A meta é chegar a15 microgramas por quilo. O betacaroteno é uma espéciede precursor da vitamina A. Também conhecida como macaxeira eaipim, a mandioca é uma das principais fontes de betacarotenoe de energia para cerca de 500 milhões de pessoas,principalmente nos países mais pobres e em desenvolvimento.Em entrevista à Agência Brasil,José Luiz Viana de Carvalho destacou a importânciado estudo para a biofortificação de alimentos básicosna dieta do brasileiro, como a mandioca, porque a falta de vitamina Aacarreta problemas de visão que podem levar até acegueira total. “A vitamina A atua diretamente no funcionamento davisão e no sistema imunológico do ser humano.” Aumentar o teor de betacaroteno na mandiocasignifica melhorar um produto que, em teoria, é apenasenergético, devido à presença forte de amido,explicou o pesquisador. Segundo ele, no caso do Brasil, os benefíciosda biofortificação da mandioca serão úteisprincipalmente para a Região Nordeste, onde existe umacarência grande dessa vitamina. É uma oportunidade para o produtor consumirtambém um produto de qualidade nutricional superior ao queconsumia anteriormente. Para os pesquisadores da EmbrapaAgroindústria de Alimentos, o ideal é estender acultura da mandioca biofortificada para todo o país, embora abase do projeto sejam os agricultores de baixíssima renda ereduzida condição tecnológica, que vivem emáreas marginais. Os pesquisadores envolvidos no projeto, quecomeçou em 2003, têm ligação com aOrganização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O ciclo de produção da mandioca, deum ano, é bem maior do que o de outras culturas básicasna dieta do brasileiro, como o arroz, o feijão e a batatadoce, que têm safra de quatro meses. “Enquanto em outroscultivos, podem ser feitas duas ou três [pesquisas]com a mandioca é possível apenas uma por ano”,disse Carvalho. Por isso, o trabalho com a mandioca deve serconcluído em 2013 ou 2014, acrescentou.O pesquisador ressaltou que o aumento do teor deferro e zinco na mandioca contribuiria para combater a anemia, que,para ele, é a maior deficiência nutricional no mundo. “Oque mais falta no mundo é ferro na alimentação.”Aliado ao zinco, o ferro reduz a anemia, aumenta a capacidade detrabalho, impede o retardo no desenvolvimento e fortalece o sistemaimunológico. Com isso, as pessoas que consomem alimentosbásicos terão uma fonte nutricional mais potencial, emtermos de qualidade, afirmou o pesquisador. “Não se trata defazer apenas enchimento, de dar somente massa, e sim de dar massa comuma estrelinha a mais.”Carvalho informou que, enquanto não sefinaliza o projeto de fortificação da mandioca, estãosendo feitos testes em Sergipe e no Maranhão, estados queregistraram os piores índices nutricionais do país.Esses testes, que deverão ser concluídos no ano quevem, mostrarão são os impactos sociais e econômicosda mandioca fortalecida.No Brasil, o projeto de biofortificaçãoenvolve oito culturas agrícolas. Mundialmente, esse númeroalcança 12 culturas.