Lourival Macêdo
Enviado especial
São Félix do Xingu (PA) - As comunidades de vilas e áreas rurais que vivem dolado esquerdo do Rio Xingu, no município de São Félix do Xingu (PA), aindavivem no escuro, sem acesso à energia elétrica. No local, 2,5 mil famílias aguardam a chegada do Programa Luz para Todos, que ainda continuano papel. O pedido foi protocolado em 2005 nas CentraisElétricas do Pará (Celpa) pela Associação dos Produtores Rurais de VilaCentral, que tem 228 famílias cadastradas. Em 2006, os representantesdas comunidades da região foram a Belém, para saber, na Celpa, qual oandamento do projeto. Os dirigentes da estatal pediram a realização de um levantamento e de um cadastro dos moradores da região. Noano passado, a Celpa entregou um documento aos cadastrados anunciando aaprovação da ordem de serviço para construir a rede de alta tensão,saindo de São Félix do Xingu até a divisa com o município de Altamira.Com uma extensão de 300 quilômetros, o projeto deverá beneficiar seiscomunidades nas vilas Novo Horizonte, Central, Novo Planalto,Pontalina, Cotia e Primavera.Ontem (4), depois de participar de umaentrevista na Rádio Nacional da Amazônia, o assessor de coordenação doPrograma Luz para Todos no Pará, Luís Galize, prometeu ao presidenteda Associação dos Produtores da Vila Central, Noeci Batista Gama, maisconhecido por Noé, que dará uma resposta àpopulação local na próxima quarta-feira (6). Com a falta de energia, os produtores não conseguemagregar valor à mão-de-obra local. Noé disse que algumas famílias compraram máquinas de despolpar frutas para processar o cupuaçu, o açaíe o cacau. “Mas na falta de geladeiras aqui nós nãotemos como conservar a polpa das frutas, uma verdura, nem resfriar umacarne”, informa Noé, explicando que a carne que sobra precisa sercozida ou salgada e desidratada ao sol.Francisca Pinheiro dos Santos, também da VilaCentral, conta que este ano conseguiu recursos do Programa Nacional deAgricultura Familiar (Pronaf) para o cultivo de cacau. “Meu marido játinha feito um empréstimo do Pronaf para fazer curral, cercas e comprarumas vacas, e eu consegui esse empréstimo de R$ 18 mil doPronaf-Mulher e plantamos 5 mil mudas de cacau. Agora precisamos daenergia elétrica para congelar a polpa das frutas e resfriar o leite,beber uma coalhada gelada”, anima-se Francisca, que agora só pensa emcomeçar a colher os frutos para pagar o empréstimo, que tem carência dequatro anos e outros quatro para quitar. Ao todo, são 30 beneficiáriosdo Pronaf para o plantio de cacau, sendo 12 mulheres.Em outra área de pequenos produtores, a 40 quilômetrosda Vila Central, fica a Vila do T, próximo ao Rio Triunfo. As casassão simples, de tábua, mas há um posto de saúde, bem montado,construído em alvenaria, com sala de espera, sala de curativos, deconsulta, sala de repouso e até uma farmácia com osremédios para as doenças mais comuns na região. Só que não tem energia.A enfermeira Maria Isabel Carneiro Alves disse que vacinas e outrosremédios que precisam ficar na geladeira não são comprados. “Existe um motorde luz da vizinha e quando há necessidade de atendimento à noite elaliga o motor para eu atender o paciente. Mas não temos nada derefrigeração.” Isabel fez enfermagem na Bahia e atende, na Vila do T, cerca de 180 pacientes por mês. O médico visita a região a cadatrimestre. Apesar de todas as dificuldades para trabalhar, Isabel é uma pessoa alegre,sorridente, e disse que a chegada da energia elétrica é um sonho da população,mas, segundo ela, o que existe por enquanto, é o projeto, a promessa e a esperança detodos.