Agronegócio é o novo inimigo na luta pela reforma agrária, diz professor

23/07/2008 - 17h49

Ivan Richard
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A disputa pela reforma agrária no Brasil hoje não émais contra o latifúndio improdutivo, mas sim contra oagronegócio. A afirmação é do geógrafo, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de PresidentePrudente, e especialista em reforma agrária Bernardo Mançano.Paraele, de agora em diante, haverá uma grande disputa entre agronegócio e a agricultura familiar pela expansãode suas áreas. Hoje, segundo Mançano, 70% das terras agricultáveis pertencem àsgrandes empresas agrícolas - algumas multinacionais - e 30% os pequenos agricultores.“Então,o que teremos de agora em diante no país é umadisputa ferrenha por terra para poder produzir e viver. As lutas porterras serão muito mais importantes do que as greves”, prevê o professor. “Essa é a questão que está sendocolocada: o campo no Brasil não pode ser monopólio deum único modelo de desenvolvimento. Tem que ser diverso”, observa.De acordo com Mancano, antes os movimentos sociais lutavam contra as grandesáreas improdutivas e agora é briga é contra aaltíssima produtividade. Ele argumenta que uma empresatransnacional instalada em um pequeno município deve ocuparuma grande área e ter altos ganhos de rendimento. Mas isso não resultará em progresso e desenvolvimento para esse município, ao contrário. "Toda a produção, bem como arenda desse negócio, irá para outras regiões ou para fora do país". “Oque temos hoje é uma situação de misériaextrema dentro do próprio país, enquanto as empresas transnacionais, o capital internacional, estão produzindoriqueza e desenvolvendo em seus territórios [propriedades]”, afirmou.Comisso, na visão do professor, a tendência é queas pessoas “excluídas” passem a lutar contra oagronegócio. “O que está acontecendo hoje éque a disputa territorial da terra não é somente contrao latifúndio. Namaior parte das regiões do país, essa luta já écontra o agronegócio”, afirmou Mançano. “Nãomudou o foco [da luta pela reforma agrária], o quemudou foi o personagem”, completou.