Julio Cruz Neto
Enviado Especial
Bogotá (Colômbia) - Depois do resgate de Ingrid Betancourt e outros 14reféns, na última quarta-feira (2), a popularidade dopresidente Álvaro Uribe, que já era alta, disparou.Qualquer pessoa em quem se esbarra em Bogotá fala bem dele.Pesquisa do Instituto Yanhaas divulgada sexta-feira (4) mostra que91,72% dos colombianos aprovam a gestão Uribe. Cresce apressão para que a Constituição seja mudada,permitindo que ele dispute o terceiro mandato.Para avaliar este cenário político,a Agência Brasil entrevistou um dos oposicionistas mais representativos da Colômbia: Samuel Moreno Rojas, prefeito de Bogotá, terceira maior cidade da América do Sul e principal centroeconômico do país, onde vivem 7,5 milhões dos 45milhões de colombianos.Moreno integra o Pólo DemocráticoAlternativo, surgido em 2006 com a fusão do Pólo com aAliança Democrática – que, por sua vez, foramformados em 2002, a partir da aglomeração de diversospartidos de esquerda, numa reforma política que acabou com asagremiações nanicas, algo que o Brasil esboçafazer.A esquerda continua sendo minoritária emâmbito nacional, frente à hegemonia de Uribe, mas temmaioria em Bogotá. Além disso, Moreno tem no currículoa maior votação da história da capital, pois foieleito em 2007 com 915,7 mil votos, batendo por 2 mil votos o recordede seu partidário e antecessor Luis Eduardo Garzon.É com essa autoridade que Morenorechaça veementemente a possibilidade do terceiro mandatopresidencial, embora reconheça o sucesso da operaçãomilitar que resgatou sua amiga Ingrid Betancourt. Amiga que nãopoupou elogios ao governo Uribe ao deixar o cativeiro. Mas sobre issoMoreno prefere não se aprofundar e esperar para ver como oespectro político vai se acomodar.Leia a integra da entrevista, realizada emconjunto com a TV Brasil.Agência Brasil - Como fica a esquerdacolombiana com a libertação de Ingrid e ofortalecimento de Uribe?Samuel Moreno Rojas - A libertação,indiscutivelmente, é uma ação muito importantepara as Forças Armadas. Mas de maneira alguma fecha a porta deum acordo humanitário, porque mais de 2 mil pessoas continuamseqüestradas na Colômbia. Então todas estasmobilizações, ações da cidadania, tudoque fazemos é muito importante continuar. Não vamosdescansar ate que o seqüestro deixe de ser arma políticae não reste sequer um seqüestrado na Colômbia.ABr - Há uma porta aberta para que oxadrez político se jogue apenas no campo das idéias.Moreno - Exatamente. Rechaçamos demaneira enfática a luta armada e violência contra apopulação civil. É nas urnas, no processodemocrático, que se devem resolver os problemas da Colômbia.ABr - Estão todos dizendo que Uribeé imbatível, que terá um terceiro, quarto,quinto mandatos...Moreno - Eu fui congressista muitos anos eme opus à reeleição presidencial. Mais do quedas pessoas, deve-se lutar pela reeleição das idéiase das propostas. Claro que a conjuntura é favorávelpelos índices tão altos de popularidade do presidente,mas se considerarmos que o processo eleitoral será daqui adois anos, muita coisa pode mudar. Também considero que mudara Constituição para permitir a reeleiçãode uma pessoa fecha os espaços da democracia.ABr - Hoje em dia fala-se de um referendopara julgar a reeleição de Uribe, que está sendoquestionada na Justiça. O que esta havendo?Moreno - O que a Suprema Corte questionoué o procedimento por meio do qual se permitiu a reeleição,não o resultado das urnas, já que Uribe obteve umtriunfo inquestionável [o presidente venceu com 62% dosvotos]. A Suprema Corte pediu que a Corte Constitucional revise asentença que permitiu a reeleição, e elesdisseram que não é mais uma questão que possaser revisada. Estamos pendentes dos termos definitivos dessasentença.ABr - O quadro de terror favorece umterceiro mandato de Uribe?Moreno - Oxalá não, quetodas estas ações não sejam interpretadas comouma futura e próxima reeleição. O país nãopode legislar por causa de uma conjuntura, de umas açõesque foram positivas, importantes. Esperamos que não mudem aConstituição e possa haver outros candidatos ecandidatas em 2010.ABr - É verdade que seu avô, ogeneral Gustavo Rojas Pinilla, foi o único presidente militarda Colômbia no século passado?Moreno - Sim, ele foi presidente de 1953 a1957.ABr - Como alguém com ascedênciamilitar vira um político de esquerda?Moreno - Porque as idéias do nossopartido sempre tiveram profunda convicção social, afavor dos interesses dos mais necessitados, da imensa maioria doshabitantes. Assim como meu avô, que foi militar pelas idéiase grande parte de seu governo foi focado em idéias sociais, noreconhecimento dos mais pobres e vulneráveis.[Foi durante o mandato de Pinilla que as mulheresganharam o direito de votar, por exemplo. O general assumiu o poderem um golpe de Estado na época chamada de LaViolencia, período de 12 anos marcado por terrorismo,assassinatos e destruição de propriedade, iniciado como assassinato de um líder liberal. Saiba maissobre Pinillae LaViolencia]ABr - Analistas projetam uma dupla comIngrid como candidata a vice-presidente de Uribe. Você acreditanisso?Moreno - Não sei. Aqui na Colômbiaacontecem tantas coisas em tão pouco, que é impossíveldizer qualquer coisa que vá acontecer daqui a dois anos.ABr - Que relação políticao senhor tem com Ingrid?Moreno - Tenho uma relação delonga data. O pai dela, Gabriel Betancourt, foi ministro da Educaçãodo meu avô. Conheço Ingrid desde pequena, fomos colegasno Senado e nossas famílias são muito próximas.Tive a oportunidade de falar com ela e dar-lhe as boas-vindas.ABr- Mas parece que agora ela apóiaUribe fortemente. Ou será só algo momentâneo?Moreno - É que a operaçãode resgate foi exitosa e muito importante para ela. Vamos esperarpara ver o que acontece.