ONG de Roraima critica “xenofobia” contra estrangeiros que trabalham com índios

05/07/2008 - 13h33

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As investigaçõesem curso pela Polícia Federal sobre a atuação deorganizações não-governamentais sem finslucrativos que atuam no Brasil são vistas com ressalvas pela direção da Comissão Pró-Yanomami (CCPY), entidade que atua há 30 anos em comunidades índigenasde Roraima e do Amazonas , mantida com recursos estrangeirose por meio de convênios com o governo federal. Segundo Marcos Wesley,presidente da CCPY, há de fato organizações desvirtuadas de seus propósitos, mas não pode havergeneralização.“É umainjustiça essa xenofobia de achar que pessoas de outro paísnão podem ter como causa pessoal, por exemplo, agarantia dos direitos de uma etnia como a dos yanomami. Alguns sãomais brasileiros do que muitos que nasceram aqui. Encaminhamossolicitação ao Departamento da Polícia Federalpara que se esclareça essa investigação”,argumentou o dirigente em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia. “Tem ONGs importantespara o Brasil e outras que são perversas e maléficaspara o Estado brasileiro. Acho que estão misturando um poucoas coisas”, acrescentou. A CCPY tem comoprincipal parceiro estrangeiro a Agência Norueguesa deDesenvolvimento e Cooperação. No governo brasileiro,mantém convênios com o Ministério do MeioAmbiente para a criação de abelhas e esporadicamentecom o Ministério da Educação para a formaçãode professores. A direção nega qualquer envolvimento em práticas irregulares, como troca de conhecimentostradicionais da área por recursos de laboratóriosfarmacêuticos. “Temos um histórico marcado pela éticae justiça na missão de defesa dos direitos do povoYanomami”, afirmou Wesley. O dirigente diz que umacampanha contra a atuação das organizaçõesestrangeiras em áreas indígenas ou de proteçãoambiental atende a interesses econômicos questionáveis:“Querem expropriar os territórios indígenas que sãoas últimas terras conservadas. O que existe não sãoONGs com interesses estrangeiros. São pessoas sensíveisàs questões ambientais e dos direitos indígenasque se unem para que essa situação seja controlada. Poroutro lado, tem interesses econômicos de brasileiros que vêemno índio empecilho para o desenvolvimento.” Ontem, o ministro da Justiça, TarsoGenro, anunciou que governo federal editará em breve um decretopresidencial pelo qual todas as organizaçõesnão-governamentais que atuam em áreas de preservaçãoambiental ou terras indígenas terão que esclarecer seusobjetivos e planos de trabalho no país, além dedeclarar suas fontes de financiamento. Também jáfoi publicada uma portaria que obriga as ONGs a se recadastrar nospróximos 120 dias na Secretaria Nacional de Justiça,sob pena de cancelamento da autorização para que atuemno Brasil. Segundo o ministro, não se trata de uma “políticaanti-ONGs”, mas sim de detectar organizações queatuam com desvio de finalidade e prestigiar aquelas que prestamserviços relevantes .O secretárionacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, informou que investigações da Polícia Federal apontam a existênciano Brasil de organizações de fachada, algumas delasdedicadas à biopirataria e à aquisição de terras em áreasde fronteira.