Libertadores de Ingrid receberam treinamento teatral, revela governo colombiano

05/07/2008 - 10h19

Julio Cruz Neto
Enviado especial
Bogotá (Colômbia) - Se o governo colombiano pagou um resgate milionário e armouuma grande farsa para viabilizar a tão esperada libertação de IngridBetancourt, como alguns acusam, só o tempo dirá. Por ora, ainformação disponível e palpável é que os militares apresentaram uma encenaçãodigna dos melhores palcos e enganaram a cúpula das Forças ArmadasRevolucionarias da Colômbia (Farc). Eles forjaram uma missão humanitária que deveriaapenas discutir a libertação, mas acabou levando embora Ingrid e mais 14reféns.O governo de Álvaro Uribe divulgou ontem (4) um vídeoda Operação Jaque, com cenas que mostram reféns revoltados dando entrevista,sendo algemados e, posteriormente, dentro do helicóptero de resgate, emestado de êxtase ao saber que estavam livres. Tudo parecendo cenas reais, mas editado. O vídeo tem menos de quatro minutos deduração.Na entrevista coletiva que concederam depois da apresentação do vídeo, o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, e osdois principais comandantes das Forcas Armadas forneceram uma série de detalhes sobre as imagens mostradas. Disseram, por exemplo, que agentes de inteligência doExercito foram treinados durante três semanas por um professor de teatro paraconvencer as Farc de que integravam a missão humanitária. Olíder do grupo seria um italiano, que, de tão bem treinado, teria convencido umguerrilheiro a lhe entregar a arma, uma pistola nove milímetros. Haveria um comaparência de árabe e um australiano que, segundo o ministro, "é a cara" de PaulHogan, o protagonista do filme Crocodilo Dundee, além de uma falsa equipe deTV. Depois do treinamento cênico, chegou a hora da verdade, eninguém refugou, conta o ministro. “Quando o presidente assumiu aresponsabilidade política, entramos em fase de maior segredo, informando apenaspouco a pouco aos infiltrados o que iriam fazer. Quando dissemos a eles quepoderiam ser seqüestrados ou mortos, a afirmação de todos foi enfática: sim,queremos fazer”. O resgate ocorreu depois que os 15 reféns foram levados parauma localidade no sul da Colômbia, onde deveriam se encontrar com Alfonso Cano,o líder das Farc, e iniciar um processo de negociação, segundo o ministro.“Então, era uma missão internacional ‘supostamente’ ajudando o intercâmbiohumanitário”, explicou, fazendo sinal de aspas com as mãos na hora de dizer apalavra supostamente, com uma expressão de vitória. “Então vocês enganaram Alfonso Cano?", perguntou um jornalista e o ministro não respondeu. O repórter insistiu e Juan Manuel Santos chamou outro jornalista para a próxima pergunta. Como as Farc raramente se manifestam, o que se tem é a versãodo governo e algumas opiniões dissonantes publicadas  nos meios de comunicação. Uma delasé da Agência de Noticias Nova Colômbia (Anncol), que divulga informaçõesda guerrilha. O veículo classifica o resgate de “surrealista” e considera estranho o fato de uma organização que atua há 44 anos mostrar tantadesarticulação a ponto de cair no "conto da ajuda humanitária", o que acabou levandoembora seu principal troféu, a jóia colombiano-francesa, como Ingrid era chamadano cativeiro. Ingrid esta na França, onde foi muito festejada ao chegar ontem (4). Em Bogotá, colombianos demonstram satisfação pela libertação da ex-senadora e dizem que oenfraquecimento das Farc é o grande trunfo do presidente Álvaro Uribe, que ousou mexer no vespeiro que seus antecessores evitaram.A repercussão vai além. A imprensa divulgou melhoriaseconômicas que teriam resultado do “efeito Ingrid”, como uma possível animaçãode investidores estrangeiros, que já estariam vendo a Colômbia como um país mais seguro parainjetar recursos, e a valorização do peso frente ao dólar, que se verifica nos últimos dias. A reportagem da Agêencia Brasil  presenciou, inclusive, pessoas reclamando da cotação da moeda norte-americana nas casas de câmbio doaeroporto de Bogotá.