Um dos pais do real, Edmar Bacha afirma que plano foi divisor de águas no Brasil pós-guerra

30/06/2008 - 16h51

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Um dos pais do real, plano econômico lançado no governo Itamar Franco em 1994, na gestão do então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, o economista Edmar Bacha afirmou hoje (30), em entrevista à Agência Brasil, que o Plano Real foi um divisor de águas na história econômica do Brasil do período pós-guerra.

“Não só ele liquidou  com a hiper-inflação, como redefiniu os termos em que se faz política econômica no país. E digo isso porque, antes do Plano Real, a direita no Brasil,  provavelmente impressionada com o que houve durante a ditadura militar, tinha a perspectiva de que só com o regime autoritário você conseguiria dar cabo da hiper-inflação no país”, explicou Bacha.

O economista disse que o Plano Real foi o mais democrático de todos os planos de estabilização implantados no país. “E demonstrou que se podia  lidar com a hiper-inflação no país, sem ditadura, afastando a direita da tentação autoritária.”Para Bacha, outra virtude do Plano Real, comprovada nas eleições realizadas desde então, foi a de mostrar que a prioridade para o eleitor brasileiro é a preservação do poder de compra do seu salário, garantida pela estabilidade de preços. “E isso, então, fez com que a esquerda no Brasil também deixasse de lado o populismo econômico, que era uma característica muito forte pré-real", observou.O economista analisou que, depois do Plano Real,  ocorreu uma aproximação das distintas correntes ideológicas no país. "Hoje, não importa quem seja o presidente ou que partido esteja no poder. A  preocupação principal é a preservação da estabilidade macroeconômica”. 

Edmar Bacha destacou também a característica de neutralidade do Plano Real em relação à distribuição prévia de renda no Brasil. “Já tínhamos carga suficiente  na nossa bagagem, que era trazer a inflação de 3.000% ao ano para abaixo de 10%, de uma vez só. E tivemos muito cuidado de evitar, tanto quanto fosse possível, perturbações no padrão pré-existente de rendimentos que existia no país. O que o Plano Real fez foi um pacto social implícito ao ser pré-anunciado, ao contrário dos planos anteriores”, relatou.

Ele enfatizou, ainda, que o plano foi totalmente negociado com o Congresso Nacional antes de ser colocado em vigor, o que não ocorreu com os planos anteriores. “Houve uma utilização plena dos recursos que a democracia oferece para fazer uma transformação profunda nos mecanismos de política  monetária e fiscal no Brasil”, concluiu.