Ex-funcionários reclamam de descaso de mineradora em município goiano

29/06/2008 - 11h22

Roberto Maltchik
Repórter da TV Brasil
Minaçu (GO) - A operaçãoda Mineradora Sama, empresa do grupo Eternit instalada no município de Minaçu (GO), nãopára de segunda a sábado e só é suspensapor 12 horas aos domingos para manutenção dosequipamentos. São 50 mil toneladas de rochas movimentadas pordia para a extração de 910 toneladas de amianto. Noentanto, o cuidado com a saúde, hoje motivo de orgulho daempresa, contrasta com um passado da mina chamado deCana Brava. Manuel Rodrigues foi aposentado por invalidez peloInstituto Nacional do Seguro Social (INSS) em 2007, aos 54 anos. Ele faz parte de um grupo deex-funcionários que assinaram um acordo com a mineradora paramonitorar possíveis doenças provocadas pelo contato como amianto. Tem direito a exames periódicos, feitospor médicos da própria empresa, que em 2004identificaram placas nos pulmões. O problema é que osmédicos da Sama não reconhecem a asbestose,diagnosticada em um exame particular feito em 2005. “A Sama nãopaga nada, só a aposentadoria mesmo. Através desselaudo que fiz, eles falam que eu tenho direito, mas atéhoje não resolveram nada”, lamenta Manuel. O médicoda mineradora, Eduardo Andrade, contesta o exame de Manuel. Eleafirma que desde 1980 não há casos de asbestose emMinaçu e defende o acordo feito com os ex-funcionários.“Não há como ter asbestose porque não hámais poeira. Não há contato [com o amianto]. Nãohá nenhum caso de pessoa que começou a trabalhardepois de 1980 que desenvolveu alguma doença relacionada aoamianto.” No mesmo acordo, os ex-funcionários abrirammão de indenizações e do tratamento médicose o amianto for banido no Brasil, o que é defendido porsetores do governo e do Congresso. Seu José Onofre, 74 anos,mal sabe escrever o nome, mas lamenta ter assinado o acordo. “Soubobo mesmo. Não sei nada. Eu acho que tenho direito àindenização”, avalia. A partir de 2001, essacláusula foi retirada dos acordos firmados entre a mineradorae os ex-funcionário. O coordenador de Doenças do Trabalho do Ministério da Saúde, Marco AntônioPerez, critica a fórmula da Sama para apoiar osex-funcionários. Ele, inclusive, recomenda que osex-trabalhadores contestem na Justiça o acordo formalizado coma empresa. Já a Associação Nacional dosMagistrados do Trabalho (Anamatra) defende o banimento do amianto.  Opresidente da Anamatra, Cláudio Montesso, avalia que nenhumatecnologia é capaz de assegurar níveis seguros depoeira no meio ambiente.“A forma que encontramos foiquestionar a legalidade da lei (que permite o uso controlado doproduto). Não há níveis seguros de utilizaçãodesse produto”, argumenta. Os estados do Rio de Janeiro, RioGrande do Sul e Pernambuco já proibiram o amianto. O últimofoi São Paulo, que só conseguiu banir o mineral apósuma decisão inédita do Supremo Tribunal Federal, quederrubou liminar que contestava uma lei estadual tornando ilegal acomercialização do produto. O presidente da Eternit,Élio Martins, defende o amianto. Segundo ele, o tipo demineral extraído no Brasil, conhecido por Crisotila, tornapossível a exploração sem oferecer risco àsaúde. Martins, no entanto, admite que o banimento éuma tendência mundial, ainda mais com o desenvolvimento denovas fibras sintéticas que substituem o mineral. “Nãopode proibir sem indicar caminhos à população eàs empresas. Na Europa, que não precisava da produçãoe não tinha demanda, tiveram cinco anos. Aqui, querem fazerisso [proibir o uso] em 24 horas”, protesta.