Programa de pesquisa quer aproveitar potencial energético de florestas plantadas

21/06/2008 - 14h18

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A descoberta de enzimasque permitam a produção em escala e o desenvolvimentode tecnologias de conversão de biomassa em etanol a partir dasflorestas brasileiras são os principais objetivos doprograma Florestas Energéticas na Matriz de AgroenergiaBrasileira. O programa está sendo realizado pela EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sob a liderançada unidade Embrapa Florestas, localizada no Paraná.Cerca de 70 instituiçõespúblicas e privadas e mais de 100 pesquisadores participam doprograma em todo o país. Um dos projetos inseridos no programa écoordenado pela pesquisadora Sonia Couri, da Embrapa Agroindústriade Alimentos, do Rio de Janeiro. Ele visa à obtençãode derivados energéticos de alto valor agregado a partir debiomassa florestal. Ou seja, é o processamento da madeira paraprodução de energia, utilizando diferentes processos.Segundo a pesquisadora, existemmuitos complicadores que oneram a produção de energia apartir de biomassa. Um deles é o custo internacional das enzimas - oucatalizadores biológicos - usadas na produção deenergia, que oscila hoje entre US$ 0,30 a US$ 0,50 por galão deetanol. Mas, para ser lucrativo para o setor produtivo, esse valorteria que ser reduzido para cerca de US$ 0,05 o barril, informou Sonia Couri. Essas enzimas, atualmente, são importadas peloBrasil.“O mundo todo estáprocurando produzir uma enzima que torne esse processo economicamenteviável. Porque a enzima é muito cara ainda”, explicou. Elaalertou também que ainda não está otimizado opré-tratamento da biomassa. Daí o interesse dospesquisadores em conseguir recursos que permitam agilizar ostrabalhos.Sonia Couri explicou que ,antes de iniciar o processo de fabricação de energia apartir da biomassa, é preciso efetuar o pré-tratamentoda estrutura rígida dos troncos para expor a fibra de celuloseà ação das enzimas. “Você tem que tirara celulose que está mais escondida para que a enzima possaagir”. A pesquisadora destacou que é preciso que hajacondições diferenciadas de pré-tratamento paracada tipo de matéria-prima usada, como resíduos deagroindústria, toras de árvore ou bagaço decana. A celulose é um polímero de glicose, ou seja, uma molécula maior e mais complexa. “Então,a enzima age na molécula de celulose e transforma aquilo emum xarope de glicose. A enzima faz com que a ligaçãoentre uma glicose e outra seja rompida, e aí você tementão a glicose livre para ser fermentada e fazer o etanol”, ensinou.Trabalhar com baixastemperaturas e em condições brandas é uma dasvantagens do uso dessas enzimas. Elas substituem o tratamento comácidos, que é muito drástico e resulta em umresíduo difícil de tratar depois, segundo a pesquisadora.  A Embrapa Agroindústriade Alimentos procura isolar fungos que sejam excelentes produtoresdessas enzimas para depois utilizar na biomassa. Até omomento, a unidade de pesquisas já testou cerca de 500fungos. Dois deles foram selecionados nos laboratórios doCentro de Tecnologia de Alimentos (CTA), situado no estado do Rio, eda Embrapa Agroindústria Tropical, que fica no Ceará.Outros grupos depesquisadores da Embrapa e de entidades de pesquisa parceirasefetuam a triagem para seleção de bactérias,cuidam da caracterização do DNA desses fungos ebactérias selecionados, e buscam ainda, a partir da biomassa, produzir um bio-óleo, que também é um derivadoenergético.Na últimasemana, a equipe envolvida na obtenção de derivadosenergéticos, no caso o etanol, esteve reunida nesta capital.O conjunto de pesquisas incluídas no programa FlorestasEnergéticas quer o aproveitamento das florestas e dos resíduosagroindustriais como uma opção para a matrizenergética brasileira.“Se vocêconsiderar que o Brasil tem poucas áreas plantadas, existe umpotencial muito grande para explorar essa área plantada. Vocêpode usar tanto a madeira de floresta plantada – não éa madeira de floresta nativa, de jeito nenhum – ou mesmo resíduosdessa floresta”, disse Sonia Coura. A pesquisadora avaliou que, em termos energéticos,é muito mais vantajoso usar parte dessas florestas plantadaspara geração de energia. Ela argumentou que se o Brasiltivesse atualmente mais áreas com florestasplantadas, não haveria tanta invasão de florestasnativas.O projeto foi iniciadoem setembro de 2007 e tem prazo de conclusão previsto paradentro de quatro anos. A pesquisadora defendeu, entretanto, que eledeverá ter continuidade. Dos recursos previstos inicialmente,em torno de R$ 5 milhões pela Embrapa, só foramliberados até agora cerca de R$ 2,5 milhões.Sonia Couri afirmou que ospesquisadores pretendem buscar recursos em outras fontes àmedida em que os estudos forem se desenvolvendo. “Porque aindanão é suficiente para tocar [o projeto] como deveriaser. Quanto mais recursos você consegue,mais rapidamente você pode ter alunos, pagar bolsas. Querdizer, ter mais gente na equipe e produzir muito mais. Porque éisso que está acontecendo nos demais países”, explicou.A coordenadora doprojeto na Embrapa Agroindústria de Alimentos observou que épreciso viabilizar as pesquisas economicamente, de modo a baratear ocusto das enzimas. Uma das empresas interessadas em validar essatecnologia em uma escala maior, anterior à etapa deindustrialização, é a Global Ciência eTecnologia, do setor de inovação. A companhia estáentrando com o projeto na Financiadora de Estudos e Projetos(Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia,em busca de financiamento. “Se a gente conseguir produzir aqui noBrasil, economiza uma série de etapas e pode ser viáveleconomicamente”, concluiu.