Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Quanto menos despesaspúblicas, menos o Banco Central precisa cortar os gastosprivados por meio da elevação dos juros. Por isso seobserva, recentemente, pressão do setor privado para que ogoverno reduza os seus gastos. A afirmação é doespecialista em finanças públicas, Raul Velloso.“Se o Banco Central éobrigado a subir os juros, isso diminui os negócios privados.E o mercado financeiro quer mais negócios”, explicou. Segundo Velloso, a redução dos gastos públicos fazcom que se diminua a demanda agregada, o que reduz a pressãosobre a capacidade de produção.Para o ex-presidente doBanco Central, Emílio Garófalo, o governo poderiareduzir os gastos reorganizando a Previdência, reduzindo onúmero de ministérios e fazendo privatizações,como de estradas, por exemplo. “Talvez privatizar o que ainda tempor aí, como estradas, tirando da folha de gastos do governo ejogando na conta do setor privado, que consegue fazer lucro. Ondepara o governo é gasto, para o setor privado é lucro”,afirmou. Garófalo considera, entretanto, que não devehaver redução de gastos com obras que geram emprego enem redução de funcionários públicos, sem aumento de contratações pelo setor público.Eleponderou que, apesar de a redução dos gastos serimportante para ajudar no controle da alta dospreços, a inflação tem origem nomercado externo, gerada pelo aumento dos preços dascommodities.“Estamos tendo umainflação importada, que é o aumento dos custosde commodities no mundo inteiro. Temos uma inflação queestá começando a ser gerada pelo aumento de demandainterna. Em alguns setores, os preços estão sendosustentados pelos financiamentos, de eletrodomésticos, de veículos”,afirmou.Já para o economista DécioMunhoz, a inflação no Brasil serestringe ao aumento dos preços internacionais. “A inflaçãonão é por excesso de demanda. A inflaçãoé porque os preços internacionais subiram e vocêimporta produtos. Então, a inflaçãointernacional vai se internalizando nos diferentes países”, disse.“Quando o governocorta a demanda, não tem nenhum sentido a não serprovocar o enfraquecimento da classe trabalhadora e dos salários, o empobrecimento da população e, assim, compensar oaumento da taxa de juros, dos custos sobre commodities. O caminho queestamos escolhendo é tortuoso. Não tem nada a ver com arealidade da economia brasileira”, criticou.Na visão deMunhoz, o ideal seria reduzir os impostos e osjuros e desvincular a taxa básica de juros, a Selic, da dívidapública. “Sempre que o Banco Central eleva a Selic, eledetermina um aumento no custo financeiro de toda a dívidapública. E não era para ser assim. A políticamonetária deveria ser feita apenas para enxugar a quantidadede moeda na economia”.Para o economista JúlioMiragaya, a proposta de redução dos gastos públicos“mira”, na verdade, nas reformas trabalhista e previdenciária.“Está se utilizando essa pequena elevação dataxa de inflação, que acontece no mundo inteiro, parajustificar uma pressão no sentido de reformas liberais naeconomia brasileira”, avaliou.