Alta da soja ameaça compromisso de não plantar em área de desmatamento

21/06/2008 - 0h52

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Osresultados positivos dos dois primeiros anos da moratória dasoja, compromisso assinado por compradores de nãocomercializar grãos produzidos em áreas de novosdesmatamentos na Amazônia, podem não se repetir noperíodo de prorrogação do compromisso, assinadaessa semana por representantes do governo, organizações não-governamentais e indústrias.

De acordocom o Grupo de Trabalho da Soja, que reúne representantes daAssociação Brasileira das Indústrias de ÓleosVegetais (Abiove) e do Greenpeace, por exemplo, nos dois primeirosanos da moratória, em nenhum dos 193 polígonos de novosdesmatamentos na Amazônia houve cultivo de soja.

Noentanto, a situação pode mudar até a próximasafra, influenciada pelo aumento do preço do grão nomercado internacional, o que eleva o interesse dos produtores, epassada a “domesticação” da terra, períodode transição (com plantio de outras culturas, porexemplo) para que o solo seja cultivável para a soja.

“Omonitoramento revelou que houve desmatamento em 193 polígonose a área está lá aguardando algum tipo dedefinição, que não necessariamente será asoja. O que não quer dizer que se nós não formosatentos, alguma soja será plantada nessas áreas. Atéporque em alguns polígonos, essas áreas estãorelativamente próximas a áreas já plantadas comsoja no passado”, admitiu o presidente da Abiove, Carlo Lovatelli.

Olevantamento dos polígonos de novos desmatamentos sólevou em conta áreas de devastação iguais oumaiores que 100 hectares, porque, segundo o GTS, em geral, nãoé economicamente viável para o produtor de sojacultivar o grão em áreas inferiores a essas.

Naavaliação do coordenador da Campanha Amazônia doGreenpeace, Paulo Adário, é preciso ficar atento tambéma desmatamentos inferiores a 100 hectares. “Identificamosproprietários que desmataram áreas menores, bempróximas às lavouras que já produzem soja, o quepode indicar que a produção será estendida paraessas áreas nos próximos anos”, apontou.

Mas, para o presidente da Abiove, a garantia de que a soja irregular não será comercializada se deve ao fato de que oscompradores de soja, que repassam a produção aosgrandes exportadores “conhecem de perto” os produtores do grão.“Ele tem raízes na região, conhece os produtores, érelacionado, são companheiros, ele tem a informação[se desmatou ou não]”, disse.

Já o coordenador da campanha do Greenpeace defende a divulgação da lista defornecedores, para que o monitoramento dos produtores, que desmataramou não para produzir mais soja, não seja feito somentepor representantes das indústrias compradoras. “O compradorde soja não tem credibilidade suficiente para dizer que nãocomprou de quem desmatou”.

Adário acredita que será necessárioreforçar o trabalho para que o monitoramento chegue aospequenos polígonos de desmatamento. Segundo ele, foramidentificados mais 47 mil com extensão inferior a 100hectares.

“Esse ano vai ter soja plantada nas áreas desmatadas Nãoserá um grande problema monitorar os 193 polígonos. Oque o GTS não têm condições de fiscalizarsão os polígonos abaixo de 100 hectares. A imensamaioria não é em área de soja, mas se a gentefalar em 10% para a soja, sendo conservador, serão cerca de 5mil polígonos a mais para monitorar”, estimou.