Acúmulo de reservas pode gerar confiança em investidor estrangeiro, dizem economistas

21/06/2008 - 0h15

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O acúmulo dereservas internacionais, próximo da marca histórica deUS$ 200 bilhões, pode ser visto como positivo para equilibrar omercado de dólares e conter a desvalorizaçãoda moeda norte-americana, mas, na visão de economistas, também pode gerar custos fiscais parao país. Para o ex-diretor do BancoCentral Emílio Garófalo, háexcesso no nível de reservas, mas para ele é melhoradministrar a sobra do que a falta. “O Brasil já teve queconviver com falta de reservas, teve que fazer três moratórias.Isso a gente não recomenda nem para um país inimigo”,disse. O atual patamar de reservas registrado no último dia 19 pelo Banco Central (BC) é de um montante de US$ 198,182bilhões.Para Garófalo, oBC não tem outra opção que nãoseja a de comprar dólares no mercado para compor as reservas. “Seo Brasil optar por comprar menos neste momento, a taxa de câmbiopode cair de forma tão violenta que pode ser fatal para país.E levar a gente a outra crise”, previu.“Imagine que o BancoCentral comprou US$ 80 bilhões no ano passado eainda assim a taxa [de câmbio] não caiu. Se nãotivesse comprado, teria sido um desastre e a crise advinda dissoseria mais grave do que o problema de administrar o diferencial detaxas de juros”, afirmou. O diferencial de juros entre o Brasil,12,25%, e os Estados Unidos, 2%, estimula a entrada de dólaresno país. Com isso, muitos investidores aplicam o dinheiro noBrasil para ganhar lucros com esse diferencial. Segundo Garófalo, aentrada de dinheiro de curto prazo no Brasil, caracterizado por sairdo país rapidamente, é “mínima”. Ele afirmouque o país conta com entrada de recursos das exportações,investimento estrangeiro direto (caracterizado pelo interesseduradouro do investidor na atividade produtiva do empreendimento),compra de ações e de empresas. “OBrasil se tornou uma excelente opção de investimentoporque controlou a inflação, tem estabilidade política,com grande mercado de consumo. O mundo quer investir aqui. Esse éum problema que temos que administrar”, afirmou. Garófaloacrescentou que essa é a primeira vez que o país estádiante da situação de maior interesse de investidoresestrangeiros pelo país. Para enfrentar, essa solução,segundo ele, a opção que o Banco Central encontrou foicomprar dólares para compor as reservas. Entretanto, para manteras reservas internacionais, o país enfrenta o chamado “custofiscal”, ou seja, a contrapartida da compra de moeda estrangeira éa emissão de títulos da dívida pública.Com isso, ao manter as reservas, o Brasil recebe jurosinternacionais menores, cerca de 2%, na aplicação dasreservas e paga a taxa Selic, 12,25% ao ano, por conta da dívidainterna com títulos.O economista DécioMunhoz explica que o custo de se manter uma reserva de US$ 200bilhões é de cerca de US$ 26 bilhões de gastoscom juros. “São mais de 40 bilhões de reais. Custamais do que os investimentos do PAC [Programa de Aceleraçãodo Crescimento] em dois anos seguidos”, afirmou. Segundo oeconomista, a emissão de títulos é necessáriapara que o governo tenha mais reais para comprar os dólares.“Toda a reserva internacional em um país devedor como oBrasil tem como contrapartida um custo financeiro, que é ocusto da dívida pública. Poderia ser diferente setivéssemos superávit fiscal, ou seja, sobrando moedanas mãos do governo. Mas nós temos déficit”,explicou.“Ter reservasinternacionais é bom quando se obtém de saldo debalanço de pagamento [registro de fluxos de recursos entre oBrasil e o exterior], como é o caso da China. Ou seja, terdinheiro no banco, o que é uma reserva, é muito bom sedecorre de ter uma renda acima dos meus gastos, quando se deposita odinheiro que sobra. Ter reservas internacionais que, sãocapitais de terceiros, é o mesmo que tomar emprestado do bancoe deixar o dinheiro depositado no banco, pagando altas taxas dejuros”, acrescentou.Já Garófalo considera normal o pagamento desse custo financeiro. Ele afirma que é comum a todos os países que formam reservas arcar como custo fiscal. “Ninguém tem taxa de juros mais baixa do que os Estados Unidos. Talvez a exceção seja o Japão.Até mesmo a Europa quando faz reservas em dólares,acaba pagando”, disse. Ele acrescentou que “todos os paísesque deram uma arrumada na economia estão com reservasrecordes". Garófalo citou como exemplo a Argentina, a China, aÍndia e o Afeganistão. Segundo dados do Fundo MonetárioInternacional (FMI), a Argentina acumula reservas de US$ 50,2 bilhões(dados de abril) e a Índia US$ 314,1 bilhões (acumulados até a primeira quinzena de junho). Neste ano, o acúmulode reservas permitiu que o Brasil se tornasse credor externo, ouseja, as reservas internacionais e outros ativos são maioresdo que a dívida externa. Para o BC, o atual nívelde reservas é importante para que o Brasil tenha maiorresistência a crises internacionais.