Política monetária deve levar inflação para o centro da meta, diz ex-ministro

18/06/2008 - 16h07

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O índice de inflação noBrasil deve recuar e ficar em 4,5% no próximo ano, mantendo-sedentro da meta oficial. A previsão foi feita pelo ex-ministroda Fazenda Mailson da Nóbrega, em entrevista à TVBrasil. Para ele, a forma de combate à inflaçãoadotada no Brasil é “politicamente correta”. Ele disse quese trata de uma ação acertada, porque “a inflaçãoafeta negativamente a popularidade dos governos”. Segundo Mailson, além de perceber a relaçãoentre alta de preços e popularidade, o presidente Lula parececompreender que existe relação entre a açãodo Banco Central (BC) e a preservação da inflaçãobaixa, “o que é particularmente importante para ospobres”. O economista lembrou que, no período do pós-guerra,a sociedade brasileira se comportava como a mais tolerante àinflação em todo o mundo. “Isso gerava uma atitudeleniente aos riscos inflacionários.”Para Mailson, esse quadro mudou, o que levou oBrasil a uma posição de grande credibilidade no mercadointernacional. O ex-ministro considera eficiente a elevaçãoda taxa básica de juros (Selic), para controle da inflação.Ele disse que só dentro de seis a nove meses deverãoser sentidos os efeitos dos dois recentes aumentos da taxa em 0,5ponto percentual, elevando-a para 12,25% ao ano. Por enquanto, ressaltou, “é uma variaçãopontual e ainda não pode ser tida como uma tendênciapermanente”. Mailson acredita que a economia brasileira continuarácrescendo de forma sustentada.Para ele, a política monetária seriaainda mais eficiente se fosse feita uma combinaçãoentre o aumento da taxa básica de juros e a reduçãodo gasto público. “O ideal seria que, ao lado da taxa dejuros, houvesse redução dos gastos públicos”.O aumento da demanda tem ocorrido principalmente pela maior oferta decrédito, mas também porque “o governo estágastando muito”, afirmou. Mailson lembrou o reconhecimento da credibilidadedo Banco Central foi destaque em publicação do jornalfrancês Le Monde, que teria sugerido ao banco centralamericano (Federal Reserve) usar o exemplo brasileiro naadoção da política monetária, que “agiupreventivamente para atacar um surto inflacionário”. Oeconomista acredita em novos aumentos da taxa básica de juros,para evitar que “a alta de preços se generalize e transformenuma espiral preços/salários”, o que iria “prejudicaros pobres e voltar ao passado de inflação elevada”. O ex-ministro observou que o Chile não tevea mesma percepção que o Brasil para conter a inflação:“Eles perderam o passo, imaginando que não tinha mais o quefazer, e a inflação [do Chile] está,rapidamente, fugindo ao controle deles. De 3% está seaproximando de 9%.”Mailson considera errônea a estratégiade restrição ao crédito, adotada por governospassados. ”A taxa de juros não tinha funçãorelevante nos esforços de combate à inflação.O governo usava o controle de preços, limitava as exportações,importava diretamente feijão, arroz e outros produtos. Agora,não. Agora é a taxa de juros”. O ex-ministro destacouque, pela primeira vez no Brasil, a população estátendo acesso a bens de consumo que antes eram privilégio dosmais abastados.Ele defende que as autoridades permaneçamatentas às pressões externas de aumento de preçosde matérias-primas e do petróleo, bem como de outrascommodities (produtos com cotação no mercadointernacional. No último caso, entretanto, ele entende que oBrasil pode se beneficiar, por ser um país exportador. Quanto à cotação do barril dopetróleo, Mailson acha pouco provável que o preçovolte à média de US$ 30 a US$ 40, porque há umaumento da demanda, principalmente diante da evoluçãoeconômica da China. Além de o consumo ter aumentado, háuma movimentação do fluxo migratório do mercadode aplicações em renda fixa para os papéis domercado futuro do petróleo.