Para empresários, obtenção do grau de investimento pode prejudicar exportações

02/05/2008 - 18h25

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse hoje (2) que a conquista do grau de investimento pelo Brasil, concedido na quarta-feira (30), pela agência de avaliação de risco internacional Standard & Poor’s, terá efeito desfavorável sobre as exportações, ainda que tenha sido positivo para o país.

“Para  o Brasil, o investment grade  foi excelente. Para o comércio brasileiro, não foi bom”, disse Castro. Ele explicou que a tendência da taxa de câmbio é cair ainda mais, em decorrência da maior atratividade para investimentos estrangeiros no Brasil com a obtenção do título. Com uma desvalorização maior do dólar, haveria prejuízo para as exportações, restringindo-as e tornando-as mais caras. “Em contrapartida, facilita e estimula as importações”, avaliou.

O vice-presidente da AEB acredita que, já em 2009, o Brasil poderá registrar déficit na balança comercial, como reflexo da desvalorização cambial. Os números divulgados hoje pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que o superávit da balança comercial somou US$ 4,580 bilhões nos quatro primeiro meses deste ano, uma redução de 64,5% em comparação ao primeiro quadrimestre de 2007.

“Nós estamos projetando para este ano um superávit máximo de US$ 22 bilhões”, estimou Castro. “Esse é o teto, mas com tendência a ser menor”, frisou.

Castro sugeriu a redução da taxa de juros, dentre as medidas que deveriam ser tomadas pelo governo para compensar  a perda nas exportações. “Porque hoje, depois de você ter um atestado de ótimo pagador [conseqüência do grau de investimento], não justifica pagar juro mais alto”.

Outra sugestão do vice-presidente da AEB é a redução dos custos portuários e, no médio prazo, promover a reforma tributária. “Nós, hoje, estamos exportando tributos. E a reforma  tributária seria uma alternativa de eliminação de tributos indiretos”, observou. Para Castro, o governo tem que investir também na melhoria da infra-estrutura, “que hoje é muito ruim, além de insuficiente e deficiente. E, com isso, ela se torna onerosa.”

Ele ressaltou, contudo, que a AEB não considera necessário mexer na taxa de câmbio, que, no Brasil, tem o regime flutuante. Castro disse que as leis de mercado é que vão definir a taxa, “sabendo que hoje o cenário não é muito favorável. Mas, é uma lei e não podemos mudar a lei ao sabor do momento”.

Castro avaliou, ainda, que a recessão norte-americana também poderia ter impacto nas exportações brasileiras. Mas, para ele, até agora, a crise ainda não afetou o comércio exterior. "Porque as cotações das ‘commodities’ [produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado internacional] todas sobem, e quanto à demanda internacional, existem indícios de que pode reduzir. Mas até agora, concretamente, não houve redução”, explicou.