Debate em São Paulo analisa a importância da TV pública e as formas de financiamento

17/04/2008 - 23h20

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A importância da TV pública e suas formas de financiamento foram os temasque permearam o debate promovido hoje (17), em São Paulo, pelojornal Folha de S. Paulo. Para os debatedores, o governo devecontinuar investindo nas TVs públicas, mas esse financiamentoprecisa ser transparente e não pode ser único.“Quantomais plural for o financiamento, melhor. Tem que ter participaçãodo governo, do Executivo, de entes governamentais para as quais ainstituição possa prestar serviço, do mercado,na medida dos apoios institucionais e patrocínios, e tambémapoio do telespectador”, disse o diretor-presidente da TVCultura, o jornalista Paulo Markun.Durante o debate,Markun chegou a defender que a forma ideal de financiamento seria acontribuição voluntária da sociedade, tal comofunciona na TV pública nos Estados Unidos.Tambémpresente à mesa de debates, o ex-presidente da Radiobráse atual conselheiro da TV Cultura Eugênio Bucciaposta na perspectiva de se trabalhar com as doações econtribuições voluntárias. Em sua opinião,isso teria como resultado uma boa programação e uma boagestão. “Mas, fundamentalmente, as regras públicasdevem assegurar o financiamento. Sou a favor do dinheiro públicona comunicação pública, mas com fiscalizaçãointensa e prestação de contas.”A presidente daEmpresa Brasil de Comunicação (EBC),a jornalista Tereza Cruvinel, acredita que o financiamento voluntárionão funcionaria no atual momento do país. “Cobrardiretamente do cidadão seria ótimo, mas a nossarealidade não permite hoje imaginar que possamos cobrar dosbrasileiros, com a nossa desigualdade e com a nossa carga tributáriaelevada, uma taxa de financiamento para a TV pública”. Paraela, os canais públicos devem buscar receitas própriasde financiamento.Os debatedores tambémdiscutiram sobre a importância da TV pública. “A TVpública é uma necessidade estrutural em qualquerdemocracia de qualquer país”, disse Bucci.“A TV públicanão é para fazer um contraponto à TV comercial.Ela não é para fazer nada a não ser aprofundar aexperiência democrática”, destacou Tereza Cruvinel.Para Markun, a TVPública tem que fazer aquilo que as TVs comerciais nãofazem. “Buscar inovação, experimentalismo, oferecerespaço para diversidade e para áreas específicasque não têm como se expressar por razão demercado. E tem que ter, acima de tudo, o compromisso da pluralidade”.O presidente da TVCultura também acredita que a busca pela audiência nãodeve ser prioridade na TV pública. “A busca da audiêncianão deve ser algo fundamental, essencial e neurótico,como é na TV comercial. Mas não se pode fazer TV paraninguém”, afirmou Markun.Na opinião deBucci, a grande preocupação no debate sobre a TVpública deve ser a questão da autonomia. “Aindependência se garante com marcos legais que precisam sermuito claros, porque a TV pública não deve apenas serindependente. Ela deve transmitir independência, deve cuidardas aparências no sentido de mostrar todos os dias,reiteradamente, que ela não é subserviente e dependentedo ponto de vista das suas decisões”.Segundo Bucci, paraassegurar essa independência seria necessário que adireção da emissora pública não fossenomeada pelo governo e que o conselho tivesse poderes pararepresentar, de fato, a sociedade, e não o governo.