Alta dos juros compromete investimentos sociais e recursos do PAC, diz especialista

17/04/2008 - 19h05

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), decidido ontem (16) pelo Banco Central, comprometerá os investimentos sociais do governo. A avaliação é da secretária-executiva do Fórum Orçamento Brasil, Eliana Graça.Para Graça, até os investimentos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) serão afetados por causa do impacto de R$ 2,9 bilhões no pagamento dos juros da dívida pública, segundo estimativa do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. “A possibilidade de o PAC obter mais recursos está reduzida porque o dinheiro para pagar a dívida terá de vir de algum lugar”, disse.Somente no ano passado, ressaltou Graça, o setor público pagou em torno de R$ 237 bilhões de juros. “Aumentar esse custo terá um preço pesado para o país”, diz Graça. “Os juros mais altos certamente são bons para quem aplicou em títulos do governo, mas são péssimos para o restante da população.”No acumulado dos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 4,73% – pouco acima do centro da meta de 4,5% para a inflação neste ano. Apesar disso, a especialista considera o aumento de juros desnecessário, porque o limite de tolerância, definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 6,5%. “A diferença não é significativa”.Na avaliação de Graça, a alta dos juros apenas para reconduzir a inflação ao centro da meta indica uma mentalidade estreita do Estado. Segundo ela, valeria mais o país se desenvolver com inflação do que por em risco a trajetória de crescimento. Ao contrário do que sugeriram entidades do setor produtivo, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), Graça não defende o corte de gastos do governo para conter a demanda global da economia. Para ela, o Estado tem de ampliar os gastos com investimentos sociais de longo prazo, como saúde e educação, mesmo que isso traga um desequilíbrio temporário para as contas públicas.“O Brasil colheria muito mais frutos melhorando as condições da população a longo prazo, trazendo infra-estrutura e emprego, do que com a política econômica presa às mesmas alternativas que se consolidaram nos últimos anos”, argumentou.Para a especialista, o corte nas verbas de custeio da máquina pública para manter os investimentos do governo seria prejudicial ao país. “Para manter médicos, enfermeiros e professores, por exemplo, o país precisa consumir verba de custeio, não de investimentos”, observou.