Conflitos entre camponeses paraguaios e colonos brasileiros são isolados, garante embaixador

08/04/2008 - 15h44

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Na terceira parte da entrevista à Agência Brasil, o embaixador paraguaio no Brasil, Luis González Arias, fala dos brasileiros que vivem ou só trabalham no Paraguai. Entre eles, estão os chamados “brasiguaios”, que plantam soja e ajudaram a tornar o país o quarto produtor mundial do grão.Há ainda os que não vivem no Paraguai, mas todos os dias cruzam a fronteira para trabalhar. Só em Cidade do Leste, de acordo com o embaixador, sete mil brasileiros fazem esse trajeto. Enquanto isso, pouco mais de mil vivem de fato na cidade.Os paraguaios vão às urnas no próximo dia 20 escolher o novo presidente, que substituirá Nicanor Duarte.Agência Brasil: Existe a questão dos chamados “brasiguaios”, imigrantes brasileiros, e os filhos deles, que já são paraguaios. Hoje em dia, o Paraguai já tem uma lei que estabelece uma faixa de 50 quilômetros na fronteira, onde estrangeiros não podem ter terras. Como fica a situação deles diante da lei?González Arias: Os que já estávem na fronteira antes da lei ficam lá. A lei é válida do dia da aplicação adiante.ABr: Mas essa lei se aplica a qualquer estrangeiro?Arias: De qualquer país vizinho. Os brasileiros, argentinos e bolivianos por razão de segurança, já que fazem fronteira com o Paraguai. ABr: Os que chegaram antes da lei têm a posse da terra garantida?Arias: Eles têm a posse da terra garantida e também a transferência para os seus filhos, para seus herdeiros.ABr: Que no futuro já serão paraguaios.Arias: Já são paraguaios, mas muitos ainda registram seu filho no Brasil, estudam no Brasil. Não estão totalmente integrados ao Paraguai. Mas agora temos uma comissão bilateral, Paraguai e Brasil, que começou a trabalhar ano passado. Já tivemos a terceira reunião e o procedimento estabelecido vai ser o seguinte: dentro da comissão de imigração tem uma comissão agrária, que é para a posse da terra, os títulos, e a outra é para imigrantes. O Paraguai vai aprovar – a proposta já está no Congresso - um acordo do Mercosul com Chile e Bolívia para migrações, que permitirá que cada país, conforme a sua legislação, aceite os migrantes. No caso dos brasileiros, os quatro candidatos [a presidente] se comprometem, neste momento, que vamos continuar regularizando. Temos mais de 115 mil regularizados. O problema principal é a falta de documentação. Muita gente está no Paraguai, trabalhando, mas não tem documentação, ou não tem nada, ou não tem em dia, então tem que dar a eles documentação.ABr: Existe alguma estimativa de quantos são eles?Arias: Na última estimativa, havia 450 mil brasileiros morando no Paraguai. Regulares, temos mais de 100 mil. A última entrega de carteiras para eles foi de 15 mil, entre 2006 e 2007. E temos também muitos brasileiros que moram na fronteira e passam a trabalhar no Paraguai. Temos em Cidade do Leste sete mil brasileiros que todo o dia saem de Foz do Iguaçu e de outras cidades para trabalhar no Paraguai e voltam [ao final do expediente].ABr: Na faixa de fronteira, em si, existe uma estimativa de quantos são?Arias: Quase metade. A lei é de 2005, e a grande imigração brasileira começou nos anos 1970, 80, 90. Agora, os novos brasileiros que estão entrando no Paraguai já não estão no Alto Paranaguá, vão para o Alto Paraguai, entram no Chaco, Misiones, e departamentos interiores. Eles vão para a cultura da soja, do milho, a agricultura em geral e a criação de gado. A maioria, no começo, era do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que pelo preço da terra se mudaram para lá. Agora, temos empresários brasileiros que moram em São Paulo e colocam capital, alugam ou compram a terra e trabalham. A grande produção de soja do Paraguai começou com a imigração brasileira.ABr: E os conflitos entre o movimento campesino e os colonos brasileiros?Arias: É muito pequeno. Temos casos isolados, como em qualquer lugar. No Brasil, os problemas entre os integrantes do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] e as empresas brasileiras, nacionais ou transnacionais, é muito mais [grave]. No Paraguai, temos quatro casos isolados, com o registro de um incidente. Ultimamente, houve mais dois incidentes, nos quais queimaram um caminhão, um trator de um brasileiro, por problemas com camponeses que se opõem à fumigação, que é um outro problema. Tivemos também outro incidente em Carlos Antonio Lopes, além de outro envolvendo um brasileiro que matou dois paraguaios. Mas fica nisso. São incidentes isolados, não há um movimento massivo de expulsão. Não há isso.