Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Aepidemia de dengue enfrentada pelo estado do Rio de Janeiro –sobretudo pela capital – é o retrato de umproblema não apenas brasileiro: atualmente, 2,5bilhões de pessoas em todo o mundo vivem em condiçõesde risco de contágio pelo mosquito Aedes aegypti,transmissor da doença. Os dados foram divulgados hoje(1º) pelo médico Pedro Luiz Taul, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, durante audiência pública no Senado para tratar do combate àdengue, febre amarela e malária. "O mundo moderno criou condições para que esse mosquito sedesenvolvesse, e ele se adaptou muito bem”, disse.
Tauldestacou que, dentre os países do continente americano, apenaso Canadá e o Chile não possuem registros do mosquitotransmissor da dengue em seus territórios. Ao tratar o casoespecífico vivido pelo Brasil, ele afirmou que o padrãobrasileiro, em termos de gravidade, se aproxima do padrãoapresentado por países pobres do continente asiático.
Um dosproblemas, segundo o médico, está no difícil acesso dosagentes de saúde às residências onde possa haver criadouros ou focos do Aedes aegypti. “Eles não conseguem inspecionar determinados locais”, disse, e lembrou que o problema do tráfico de drogas em favelas, como no Rio de Janeiro, também impossibilita o trabalho dos agentes, assim como o medo de assaltos, por parte de moradores de maior poder aquisitivo.
Taul disse ter esperança no desenvolvimento de uma vacina, que já está em estudo no país, e que seja eficaz na imunização para os quatro tipos de dengue – incluindo a hemorrágica. E criticou a aposta do governo de combater a doença apenas no período próximo ao de chuvas. “Devem-sepromover pesquisas na área. O controle do mosquito nãodeve ser feito apenas a partir de novembro [mês em que operíodo de chuvas na maioria das regiões do país começa]. Deve seruma ação permanente”, afirmou.
O médico citou exemplos positivos para a redução dosíndices de letalidade da dengue no país. Niterói– cidade vizinha à capital fluminense – possui as mesmascondições climáticas e pluviométricas do Rio de Janeiro, mas segundo ele conta com "ações mais adequadas" para diminuir o número de mortes. Taul garantiu que, apesar de poucos, há municípios que chegam a registrar índices de 5% a 10% de letalidade para a dengue hemorrágica, um dos tipos mais graves da doença. "A redução da letalidade deve ser uma ação intersetorial e não só da saúde", sugeriu.
Dados do Ministério da Saúde informam que no mundo são registrados, a cadaano, entre 80 e 100 milhões de casos de dengue. O aumento dadensidade populacional, sobretudo em áreas urbanas (81%), éapontado com uma das principais causas para a proliferaçãodo mosquito transmissor.