Estudo aponta contaminação em 70% das águas superficiais do Brasil

22/03/2008 - 15h53

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A poluição tornou 70% das águasde rios, lagos e lagoas do Brasil impróprias para o consumo. É o que aponta relatório editado pela organização não-governamentalDefensoria da Água, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).A pesquisa, que traz dados do período 2004-2008, envolveu 423 pesquisadores,830 monitores de campo e cerca de 1.500 voluntários, que identificaram 20.760áreas de contaminação em todo o país.

Em relação à primeira edição do documento, divulgado em2004, a contaminação das águas superficiais cresceu 280%, dado que torna do Dia Mundia da Água, celebrado hoje (22), um momento de reflexão sobre a necessidade de medidas urgentes.

“Nesse ritmo, se nadafor feito, nos próximos quatro anos 90% das águas estarão impróprias para ocontato humano, sendo que atualmente mais de 70% já é imprópria para oconsumo”, diz o texto dos pesquisadores.Asprincipais causas da contaminação são atribuídas principalmente ao agronegócioe à atividade industrial. “Há uma falta generalizada de controle e defiscalização da geração, da destinação e do tratamento de resíduos, sejam elesurbanos, de saúde ou residenciais”, avalia o secretário-geral da Defensoria daÁgua, Leonardo Morelli.De acordo com o relatório da ONG, a mineração, aprodução de suco de laranja e de derivados da cana-de-açúcar são “destaquesnegativos” pelos problemas ambientais provocados pelo descarte inadequado deresíduos industriais e pelas conseqüências sociais ligadas aos empreendimentos,como exploração de mão-de-obra e avanço sobre áreas indígenas.O documento critica ainda a “euforia” com a produção debiodiesel, o que, segundo a ONG, demonstra “uma tendência para a economiaagrícola, com empresas petrolíferas altamente contaminadoras apropriando-seindevidamente do discurso do uso de elementos naturais que na verdade mascaramas tentativas de sobrevida dos combustíveis fósseis”.O lançamento de esgotosdiretamente nos rios e a exposição de resíduos em lixões também são apontadascomo causas do crescimento contínuo da poluição das águas, principalmente emáreas urbanas.“A existência de lixões continua sendo uma realidade irrefutável em mais de 4,7mil municípios sendo que a deposição de resíduos sem controle ou proteçãocontinua ocorrendo nas margens de cursos de água e proximidades de nascentes”,relata o texto. Um agravante, segundo a ONG, é que menos de 3% doslixões enquadram-se na categoria de “aterros controlados”, por exemplo. Alémdisso, o país conta com cerca de 20 aterros devidamente licenciado e comcapacidade para receber lixo hospitalar infectante.De acordo com o relatório, as 20.760 áreas de contaminação mapeadas pelospesquisadores afetam diretamente cinco milhões de pessoas, além de outras 15milhões de vítimas de impactos indiretos.