Número de casos de dengue no Rio pode ser 30 vezes maior que o registrado, diz infectologista

19/03/2008 - 15h53

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O númerode casos de dengue no Rio de Janeiro pode ser 30 vezes maior do que oanunciado pelos órgãos de saúde. O alerta foifeito pelo infectologista e professor da Universidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ) Edmilson Migovski. Segundo ele, apenas um em cadadez casos é notificado pelos médicos que fazematendimento nas emergências dos hospitais. Além disso, nemtodos as pessoas infectadas apresentam os sintomas da doença.De acordo com o infectologista, este pode ser o caso de dois em cadatrês pacientes. "O que nós vivemos hoje noRio de Janeiro é uma catástrofe. Um médico deemergência que precisa atender 40 ou 50 pacientes em uma manhãnão consegue parar para notificar todos os casos. Ou eleatende, ou ele notifica", afirmou Migowski. Segundo aSecretaria Estadual de Saúde, somente neste ano, foramregistrados mais de 23,3 mil casos de dengue no estado e trinta e 33mortes. Se considerado o mesmo período, o número ficaatrás, nos últimos dez anos, apenas do registrado em 2002, quando houve uma epidemia da doença. No município,até agora, 29 pessoas morreram e mais de 20 mil foram infectadas.Para Migowski, as autoridades adotamestratégias de combate ineficazes. Um exemplo sãoas campanhas de mobilização popular, como o Dia D daDengue, reunindo o Ministério e as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde,nos mesmos moldes das campanhas de vacinação, ou seja, focandoas atenções apenas em um dia. "Esse D, doDia D, tinha que ser de década. Ou o combate é feitopor décadas a fio, ou a cada verão serãocontabilizados mortes e sofrimentos", disse. Obiólogo Jair Rosa Duarte, professor de gestão ambientalda UFRJ, também defende o combate intensivo da dengue ao longodo ano, principalmente através da conscientizaçãopopular. "O mosquito transmissor da doença se adaptoumuito bem à vida urbana e doméstica, dentro da casa daspessoas. Então, é preciso reforçar as açõeso ano todo, se não o quadro não muda."Duarte propõe ainda que as autoridades façam planejamento de ações com antecedência para oferecer atendimento médicoeficaz nos meses de verão, quando as ocorrênciasaumentam. "Não adianta, no meio do problema, buscar novosleitos. É preciso viabilizar isso antes",argumentou.Para tentar reduzir as filas na emergênciados hospitais, representantes da Secretaria Estadual de Saúdedo Rio de Janeiro e do Ministério da Saúde pediram, noinício desta semana, apoio dos hospitais das ForçasArmadas para aumentar o número de leitos destinados apacientes com dengue. Nesses hospitais, entretanto, os leitos jáestão ocupados pelos próprios militares e dependentes. A disponibilidade de novos leitos deve ser analisada em reuniãoprevista para segunda-feira (24).A SecretariaMunicipal de Saúde informou, em nota à imprensa, quediversas medidas estão sendo adotadas para conter o avançoda doença na cidade, além das açõesrotineiras durante todo o ano. Entre elas, estão a contrataçãoe o treinamento de profissionais, a suspensão do pontofacultativo de amanhã (20), o remanejamento de leitos ea priorização dos atendimentos aos casos de dengue. "A situaçãofoi mais crítica entre o fim de janeiro e o início defevereiro, mas agora as ocorrências são declinantes",disse o prefeito do Rio, César Maia, em e-mailenviado à AgênciaBrasil.Em nota, a Secretaria Estadual de Saúdeinformou que 164 leitos da rede estadual foram abertos para atenderos pacientes infectados e que o governo segue em negociaçãocom as Forças Armadas para utilização de leitosde suas unidades de saúde. A assessoria de imprensa doMinistério da Saúde informou que o ministro JoséGomes Temporão deve se pronunciar ainda hoje (19) sobre oassunto.