Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A separação entre o Complexo do Alemão e o Complexo da Penhaé feita por apenas uma rua. Os conjuntos de favelas na zona norte do Rio reúnem23 comunidades e mais de 200 mil habitantes. Mas apesar da proximidade, só umdos lados receberá obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).Enquanto o Alemão ganhará novas ruas, escolas, biblioteca,creche, posto policial e até um teleférico, no valor de R$ 601 milhões, as dezfavelas da Penha não foram contempladas com verbas do PAC, o que acaba deixando os moradores revoltados.“Da nossa parte, a gente só ganha mesmo é bala. É aúnica coisa que nós temos aqui do outro lado. É só caveirão subindo e dandotiro”, protesta Maria do SocorroLima dos Santos, moradora da favela da Merindiba, comunidade localizada junto aum ponto turístico do Rio, a Igreja da Penha, A comunidade também convive com os conflitos entre o tráfico e a polícia.Maria do Socorro destaca as melhorias que ela também querpara o local onde mora: “Escola, uma boa creche, um parque descente para osnossos filhos brincarem. Do lado de lá vai ter, e nós ficamos sem nada”.O líder comunitário Jorge Ribeiro faz coro e protestapela falta de atenção. “A gente lamenta esse fato, de uns com muito e outroscom nada. Mais uma vez, o povo aqui do complexo ficou decepcionado. Acomunidade está completamente abandonada pelo poder público”.Entre os motivos que irritam Ribeiro, está oteleférico que será construído no Alemão. Ele diz que o dinheiro poderia serinvestido nas favelas da Penha. “Isso é uma fantasia. Nós temos que ver arealidade, tem muitas vielas aqui, valas negras e casas infestadas de mosquitoda dengue. A gente lamenta". Para o presidente da Associação dos Moradores da Merindiba,Luís Cláudio dos Santos, a não-realização das obras e as constantes ações dapolícia acabaram causando revolta nos moradores. “A população está com medo. A obra não vai chegar, isso nósjá temos certeza. Agora, a gente só não tem certeza se a guerra vai partir parao lado de cá. A comunidade começou a se sentir insegura, o que fez com queessas barricadas ficassem todas no meio da rua”, desabafa ele, em referênciaaos montes de entulho que bloqueiam as ruas de acesso, tornando difícil a passagemde veículos.As barricadas são uma forma de proteção dos traficantes quedominam o local contra facções rivais e as operações da polícia. Na parteinterna da Merindiba, a vigilância é feita por traficantes, a maioria jovenscom pouco mais de 18 anos, que ficam armados em torno das bocas de fumo oucirculam em motos, armados de fuzis.Segundo a secretária nacional de Habitação, Inês Magalhães,do Ministério das Cidades, os critérios de seleção das comunidades que receberiam as obras do PAC foram decididos em conjunto com as prefeituras eos governos estaduais, levando em conta os indicadores sociais mais desfavoráveis.