Mãe de brasileira impedida de entrar na Espanha afirma que filha sofreu preconceito

07/03/2008 - 11h59

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os 30 brasileiros impedidos de entrar na Espanha na última terça-feira (4) foram deportados por preconceito, avalia Jucineide Rangel, mãe da estudante Patrícia Rangel, que fazia parte do grupo. Ela diz que aguarda com ansiedade oretorno da filha, previsto para hoje (7).

“Ogrupo que ela estava era heterogêneo. Tinha pessoas com criançano colo, gente que já morava na Espanha e que veio ao Brasilvisitar parente, gente que tinha dupla nacionalidade. A únicacoisa que ela [a polícia espanhola] focalizou éque eram brasileiros, latinos e marroquinos. Detectou gente que elesconsideram menores”, afirmou Jucineide hoje em entrevista àRádio Nacional.

Segundoinformações fornecidas por Patrícia à mãe,por telefone, o governo espanhol tem grande preocupaçãocom o número de turistas sul-americanos que chega ao país para trabalhar, especialmente com os casos de prostituição.

“Essepessoal vem clandestino. Eles não podiam falar nada dissodela. A Patrícia faz mestrado no Brasil, trabalha em estágioremunerado. Não podiam dizer 'essa menina veio se prostituirou tirar o nosso emprego'. Talvez, se eles tivessem analisado bemesses detalhes, nem tivessem barrado eles.”

Jucineide conta que a filha permaneceu “amedrontada” durante todo o tempoem que foi mantida em uma pequena sala do aeroporto de Madri, assimque desembarcou no país. Segundo o relato da filha àmãe, Patrícia chorava muito e ficou sem comer e beberdurante grande parte do primeiro dia, além de ter tido seuspertences levados pela polícia espanhola.

“Atéo antibiótico foi retirado dela. Ela interrompeu o tratamento.[A sala] não tem grade, mas tem alojamento, já épreparada para quem vai ficar retido no aeroporto. Ela estava sembanho, sem escovar os dentes, sem lavar o rosto desde o dia que elaviajou.”

O grupode brasileiros saiu do Rio de Janeiro na última terça-feira, mas, no caso de Patrícia e de um colega que a acompanhava,o destino final era a cidade de Lisboa, em Portugal, onde fariam umaapresentação em um congresso.

“Ela égraduada em relações internacionais e agora fazmestrado em ciências políticas. Portugal, todo ano, fazum congresso sobre ciências políticas. Ela foi convidadapelo governo de Lisboa a apresentar a tese de mestrado. Iriaapresentar ontem pela manhã no congresso.”

Jucineide considerou positiva a atitude do governo brasileiro em relaçãoao governo espanhol, mas acredita que é preciso fazer mais.

“Porenquanto, estou até gostando um pouco da atitude [dogoverno brasileiro] porque parece que ele está serevoltando, pedindo satisfação ao governo espanhol. Umcônsul até ligou dizendo para a gente não sepreocupar que eles já estariam tomando providências.Acho que eles agiram, mas não adiantou nada, porque opreconceito, pelo que minha filha falou, é contra brasileiro.”

A mãedestacou ainda que pretende aguardar a chegada de Patríciapara compreender melhor os detalhes em relação aotratamento recebido enquanto foi mantida na Espanha, mas nãodescarta a possibilidade de mover uma ação na justiçacontra o governo espanhol. Segundo ela, os pré-requisitosexigidos pelo país estavam em dia e não havia razãopara a sua filha ser barrada.

“Elestêm o comprovante de confirmação do congresso queiriam participar, têm toda a documentação. Elatem o seguro saúde, que é obrigatório, estálevando a quantidade de euro diária que precisa, tem cartãode crédito internacional. Tudo que eles estão alegandoé mentira. Até a passagem de ida e volta eu compreijunto com ela e [fizemos] a reserva do albergue.”

JucineideRangel disse que o último contato com a filha foi umtelefonema na noite de ontem (6). Patrícia confirmou que seria deportada para o Brasil. O vôo saiu hoje (7) às 8h deMadri (meio-dia na Espanha).