Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O especialista em reprodução humana Roger Abdelmassih realiza desde 2005 pesquisas com células-tronco embrionárias de camundongos para tratamento de infertilidade. Segundo Abdelmassih, o próximo passo seria a pesquisa com células-tronco embrionárias humanas, que poderiam ser utilizadas para criar gametas humanos (óvulos e espermatozóides) e ajudar casais inférteis a terem filhos. No entanto, a decisão do ministro Carlos Alberto Menezes Direito, do Supremo Tribunal Federal (STF), de pedir vista do processo que contesta a validade da Lei de Biossegurança - que autoriza o uso de células-tronco embrionárias - deverá adiar esse tipo de pesquisa.
“Ouvi dois ministros muito claros. Agora, essa história de adiar, eu não entendo por quê. Ele [Menezes Direito] já teve tempo bastante para conhecer o assunto. Está vendo que a coisa está indo contrária e quer puxar um pouco o tempo”, opina Abdelmassih.Na opinião do especialista, que se diz católico praticante, a vida só começa a partir da implantação do embrião no útero. Para justificar essa idéia, ele lembra que a legislação brasileira considera válido como critério de morte o fim da atividade cerebral. O oposto, ou seja, o início do sistema neural, deveria então, na opinião de Abdelmassih, ser considerado o início da vida humana. “Há muitas discussões. A comunidade científica entende que o embrião não é vida, mas um conjunto de células vivas”, explica.Apesar de ser favorável às pesquisas com células-tronco embrionárias, o especialista afirma que os embriões, mesmo os congelados há mais de três anos, ainda podem ser implantados no útero e gerar seres humanos saudáveis. “Um embrião que está congelado e não é da melhor qualidade terá muita dificuldade, mas ele poderá resultar numa gravidez”. Roger Abdelmassih realiza, segundo estatística própria, 2 mil ciclos de fertilização in vitro por ano, uma média de 150 a 160 fertilizações por mês. Segundo ele, só são congelados os embriões de qualidade. “Os que não são bons não se desenvolvem no laboratório”, diz.O médico conta que há alguns anos um grupo de cientistas ingleses destruiu 4 mil embriões que estavam congelados. Para ele, a prática não faz sentido já que as pesquisas estão interessadas em aproveitá-los. “O Conselho Federal de Medicina (CFM) estabeleceu que o indivíduo autoriza e libera o embrião depois de três anos, se não for usado, para ser doado ou usado em benefício da ciência e da pesquisa”, afirma. Ele explica que raramente há casais que querem o embrião completo, pois geralmente apenas um dos cônjuges tem problema de esterilidade.Abdelmassih lembra que laboratórios brasileiros estão pagando para obter linhagens de células-tronco embrionárias humanas, que poderiam ser produzidas no país caso as pesquisas fossem autorizadas, como prevê a Lei de Biossegurança. Ele acredita que o Brasil tem grande potencial para desenvolver trabalhos com células-tronco embrionárias, especialmente os relacionadas à área de reprodução humana. “ O Brasil é muito pronto. O que eu quero é criar solução para o casal sem filho, é dar filho a quem queira ter filho”.