Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) quecomeçam hoje (7) em três conjuntos de favelas do Rio representam uminvestimento de R$ 1,14 bilhão, vão gerar 4.600 empregos diretos e prometem serum divisor de águas na relação que essas comunidades têm com o resto da cidade.O início dos trabalhos contará com a presença do presidenteLuiz Inácio Lula da Silva e do ministro das Cidades, Márcio Fortes, queparticiparão de solenidades no Complexo do Alemão, em Manguinhos e na Rocinha. Os projetos incluem abertura e alargamento de ruas,instalação de redes de água e esgoto, construção de postos de saúde, escolas,creches e praças. Até um teleférico vai ser construído para ligar os moradoresdo Alemão a outros meios de transporte.Mas apesar das melhorias, os moradores aguardam as obras comsentimentos antagônicos de euforia e medo. Ao redor do Complexo do Alemão,faixas com a frase “PAC sim, violência não” mostram o que a comunidade pensa sobreo assunto.Considerada uma das áreas mais violentas da cidade, o Alemão– um conjunto de 13 favelas, com 95 mil pessoas – tem sido palco freqüente detiroteios, mortes e casos de balas perdidas. O temor dos moradores é de que hajauma invasão maciça de policiais para dar garantia às obras, o que poderia gerarnovos conflitos, como ocorreu em junho do ano passado, quando19 suspeitos de ligação com o tráfico foram mortos pela polícia.A favela Nova Brasília é um retrato desta situação de contrastes.Cercada há meses pela Força Nacional de Segurança, que fica naentrada da comunidade, seus moradores demonstram apoio às obras, mas convivemdiariamente com o tráfico de drogas, que impõe regras e limites. A 50 metrosdos soldados da Força Nacional, trilhos de aço bloqueiam a rua Nova Brasília,principal via de acesso, como forma de dificultar ataques de facções rivais eda polícia.As kombis que levam os moradores têm que parar, um ajudanteretira os trilhos e torna a colocá-los depois que o veículo passa. Pouco além,é possível ver traficantes armados, todos jovens, controlando de longe omovimento e protegendo as bocas de fumo.Tudo isso deixa apreensivo o presidente da Associação deMoradores de Nova Brasília, Edmar Lopes, que teme um “banho de sangue” sehouver um confronto generalizado. “Aqui a gente precisa muito de PAC. Mas se épara vir com um rio de sangue, destruindo os moradores com guerra, eu acho quenão vai resolver nada.”Lopes diz que o maior desafio do PAC será dar oportunidadesde inclusão e lazer para os jovens, como alternativa ao tráfico de drogas.“Adolescente é o que mais tem na nossa comunidade. Mas onde eles vivem não temnenhum local para jogarem futebol ou vôlei. E ainda por cima, sofrem com opreconceito por serem daqui. A sociedade vê o Alemão como uma fábrica debandidos e na verdade não é isso.”A possibilidade de tiroteios também assusta a comercianteMariana Vieira Ribeiro, que tem uma banca de revistas na Nova Brasília. “Osmoradores estão muito preocupados, porque ninguém chegou para conversar,explicar como vai ser. Só ficam dizendo que vão botar não sei quantos milpoliciais”, diz Mariana, que considera a implantação de redes de água,esgoto e energia elétrica as obras mais importantes.“A comunidade vive semágua, esgoto e luz. Agora, teleférico não vai resolver nada para o morador. Oque pode resolver é botar mais condução”, afirma ela, criticando o projeto de umteleférico ligando a parte alta do Alemão à estação ferroviária de Bonsucesso,em um trajeto de cerca de 20 minutos, baseado em um projeto existente na cidadede Medellin, na Colômbia.Outro comerciante da Nova Brasília, Elmar CarneiroNascimento, que tem uma banca com artigos eletrônicos e pequenas utilidades,demonstra ceticismo em relação às obras do PAC. “Eu estou vendo muito barulho equero ver se isso se realiza. Porque já ouvi muita promessa aqui neste bairro,que merecia ter uma coisa de fato e até hoje só teve coisa de efeito. Sópalavras.”Perguntado se temia reação dos traficantes às obras,Nascimento evita falar abertamente sobre o assunto: “A gente continuatrabalhando, porque a vida não pode parar. Espero que a coisa aconteçanormalmente, sem nada de impacto que prejudique a comunidade. Que o governotraga coisas boas e não coisas que machuquem os moradores”.Para a professora Edvania Menezes Nascimento, que dáaulas no Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) da comunidade, as obras do PAC deverão melhorar a qualidade doensino que hoje é oferecido aos estudantes. “Essa obra vai ser boa em relação àeducação. A construção de escolas, criação de áreas de lazer e abertura de cursosprofissionalizantes vão direcionar o jovem para outros setores.”