Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A recuperação da indústria de autopeças da Argentina deverá ser oprincipal objetivo do próximo acordo bilateral de comércio automotivo a ser firmado entre o país eo Brasil. Durante reunião realizada hoje (3) – a primeira paradiscussão do pacto –, o secretário-executivodo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, IvanRamalho, assim como o secretário de Indústria da Nação do Governo Argentino,Fernando Fraguío, destacaram a intenção de alavancar a produção de autopeçasna Argentina e equilibrar a balança comercial do setor com o Brasil."Parece-nos racional, e assim decidimoscolaborar mutuamente para que a participação argentina no mercado de autopeçascresça”, declarou Fraguío à imprensa, após a reunião.Atualmente, Brasil e Argentina já têm políticas conjuntas para evitaro desequilíbrio na produção de veículos e peças. De acordo com as normasdo acordo bilateral em vigor, que expira em 30 de junho, a cada US$ 100 em produtos do setor automotivo que um país exporta para o outro, oexportador ganha o direito de importar US$ 195 sem pagar impostos e, assim, estimula a produção do vizinho.As regras de hoje, no entanto, não têm feito com que aindústria de autopeças argentina consiga exportar tanto para o Brasil quanto abrasileira exporta para a Argentina. “No que diz respeito a automóveis,veículos montados, não existe um desequilíbrio muito grande, o Brasil tem umpequeno superávit. Já no que dizrespeito a autopeças, a diferença é mais acentuada”, afirmou Ramalho, em entrevista coletiva. De acordo com as estimativas do secretário-executivo, o Brasil deveimportar US$ 10 bilhões (cerca de R$ 16,7 bilhões no câmbio de hoje) emautopeças neste ano. Fraguío disse, entretanto, que somente cerca de 10% devem vir daArgentina.O representante do governo argentino afirmou ainda que, sóno setor de autopeças, o superávit do Brasil na balança comercial é de cerca deUS$ 1,4 bilhão (R$ 2,33 bilhões). Para ele, isso tem de mudar: “Entendemos que o Mercosul deve ganharposições no ranking da indústria automotiva. E para ganharmos posições, temos quejuntar forças e recuperar a indústria automotiva argentina.”Na opinião de ambos os representantes, mais do que alterar a política deincentivos fiscais – a ser discutida antes do fechamento do novo acordo –, é preciso darcondições para empresários invistirem na produção. Buscando isso, os dois governosjá chegaram a um consenso: é preciso firmar compromissos com prazos maislongos de vigência.“Estamos de acordo que, a partir deagora, devemos negociar programas com períodos mais longos de duração. O prazode um ano [modelo atual] inibe a atração de investimentos. Nãotemos prazos definidos, mas já começamos a conversar em torno de um prazo decinco anos”, disse Ramalho.Ele acrescentou que "se a Argentinaaumentar a sua produção de autopeças, isso vai ajudar areduzir o desequilíbrio e pode ajudar as montadoras brasileiras, que hojeimportam em valores expressivos autopeças de regiões mais distantes, comlogística mais difícil e pagamento de impostos.”Fraguío declarou que, para alcançar o objetivo, não está descartada a possibilidade de o governo brasileiro colaborar com o aumento dos investimentos no país: “Se foreminvestimentos argentinos, são excelentes; se forem investimentos binacionais,são muito bons; se forem investimentos brasileiros, são bem-vindos.”A discussão do acordo prosseguirá no fim deste mês, quando representantes dos dois países se reúnem emBrasília, e no início de abril, com nova reunião em Buenos Aires.