Pesquisadores do Inpa reintroduzem peixes-bois em rio amazônico

03/03/2008 - 6h49

Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Um grupo de pesquisadores doInstituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) fez nesse domingo (2) a reintrodução de dois peixes-bois em seu habitat. Para os especialistas, o fato é um marco para a Amazônia e umatentativa de colocar em equilíbrio as populações dessa espécie quepodem chegar a viver 60 anos e a pesar 450 quilos, mas que por serem  extremamente dóceis estão quase em extinção.Segundo o pesquisador Fernando Rosas, os dois animais são machos ecada um tem cerca de oito anos. "Ainda bem pequenos, eles ficaramórfãos, provavelmente porque suas mães foram capturadas numa pescairregular. Depois disso, foram resgatados por agentes do InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)e conduzidos à sede do Inpa em Manaus", conta Rosas.Desde então, os pesquisadores tiveram todo o cuidado necessário com os peixes-bois, inclusive com a amamentação, que foi feita pordois anos na mamadeira. "Há anos, o Inpa trabalha com a reabilitação depeixes-bois, incluindo estudos fisiológicos, comportamentais enutricionais, e chegamos ao momento certo quanto aodomínio sobre a biologia da reprodução desses animais. Acreditamos quechegou a hora de começar a recolocar esses animais no ambientenatural.  É hora não só de criar peixe-boi em cativeiro, mas também, em umfuturo próximo, de repovoar algumas áreas da Amazônia em que a espécieestá em níveis críticos e baixos em termos populacionais", acrescenta Fernando Rosas.É a primeira vez que animais dessa espécie voltam para aságuas dos rios amazônicos, depois de terem passado a infância emcativeiro controlado pelos pesquisadores do Inpa. De Manaus, os peixes-bois foram levados em uma viagem de quase oito horas de barco -acomodados em colchões umedecidos com água limpa - para o rio Cuieiras,que fica a cerca de 60 quilômetros ao norte da capital amazonense. Cadaum pesa atualmente cerca de 180 quilos e no local escolhido para serem soltos não há tradição de caça desse tipo de animal. Mesmoassim, durante dois anos, os pesquisadores do Inpa fizeram um intensotrabalho de reeducação ambiental e preparam a comunidade local para oconvívio com o animal."Ainda nos preocupa a existência da caça do peixe-boi. O animalcostuma ser apreciado na Amazônia pelos caboclos que o capturam para sealimentar. Isso requer um estudo de reeducação ambientalintenso. Não adianta soltar um peixe-boi se ele vai ser morto poucotempo depois", explica Rosas.Já em Cuieiras, os animais ficarão abrigados por uma semana em umtanque-rede, com o objetivo de promover sua completa adaptação ao local. Tudoserá monitorado pelos pesquisadores e só então os peixes-bois serãoverdadeiramente libertados. Em cada um delesserá colocado um radiotransmissor que vai ajudar os pesquisadores aestudar o comportamento da espécie e, com isso, subsidiar as ações parapreservação do animal na Amazônia.A preocupação com a sobrevivência do peixe-boi está relacionada aofato de a espécie ser presa fácil para pescadores que desconhecem osperíodos de reprodução e gestação desses animais e podem promover a caçadescontrolada. Além disso, a fêmea do peixe-boi só tem umfilhote de cada vez. O período entre uma gravidez e outra leva nomínimo três anos e o período de amamentação dos filhotes é de dois anos."O mais importante agora será a colaboração dos comunitários porqueeles são a chave do sucesso desse projeto. A gente não pode correrrisco de que esse animal seja abatido. A educação ambiental está sendofeita nessas comunidades, mas a população tem que se conscientizar de queesses dois animais podem se aproximar de comunidades ou vilas, porqueeles sempre tiveram contato com seres humanos. Contudo, as pessoas quecuidavam deles não tinham a menor intenção de prejudicá-los. Omanuseio para eles é uma coisa normal e por isso a colaboraçãodessas pessoas é fundamental para a reintrodução", afirma.