Juros mais baixos no exterior não compensam pagamento total da dívida, diz professora

22/02/2008 - 11h40

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O custo do dinheiro noexterior é mais baixo do que no Brasil, ou seja, paga-se menos juros para pegar empréstimos. Por isso, nãovaleria a pena o governo e as empresas pagarem toda a dívidaexterna. A avaliação é da professorado Departamento de Economia da Universidade Estadual do Rio deJaneiro (Uerj), MariaBeatriz David. Ontem (21), o Banco Central informou que o Brasil passou aser credor externo, uma vez que as reservas internacionais e outrosativos, dinheiro aplicado, são maiores do que a dívida externa.“Hoje é maisbarato pegar dinheiro lá fora do que pegar dinheiro aqui. Porisso, mesmo com esse grau de reservas, não valeria a pena o governo brasileiro, nem as empresas, quitar tudo o que devem”, explicouMaria Beatriz, hoje (22), em entrevista à Rádio Nacional.De acordo com aprofessora, é necessário atenção quanto àdívida interna do país. “Esse fato [o Brasil comocredor externo] é bom, mas não significa que nãotemos mais dívidas. O grande problema do país hoje éo equacionamento da dívida interna, ao contrário dosanos 80, quando o que pesava era a dívida externa”.Para Maria Beatriz, ocaminho para resolver o problema da dívida interna é diminuirdrasticamente o nível das taxas de juros, “que é maisdo que o dobro da taxa de juros do mercado internacional”.“Aquele sonhado país qualificado sem riscos depende também doequacionamento da dívida interna”, acrescentou, referindo-se àobtenção da avaliação de investmentgrade (grau deinvestimento), reconhecimento internacional baseado em melhorias dos indicadores socioconômicos. A classificação é feita por agências derisco, depois de constatarem que o país oferece segurança aos investidores.Ontem, o ministroda Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a transformaçãodo Brasil de devedor para credor significa que o país temagora um papel de protagonista no cenário internacional,porque acumula recursos, o que o torna mais próximo deobter a avaliação de grau de investimento. Para o economista Raul Velloso, o país fez o dever de casa no que diz respeito aosetor externo, mas ele também ressaltou a importância deajustes nas contas da administração pública.“Mas devíamos ter aproveitado essa maré mansa e fazerajustes nas contas do governo. O temor é que sejamos forçadosa fazer alguma correção quando a situaçãoexterna estiver pior. Uma coisa é, com sobra de caixa no seubolso, fazer ajustes nos gastos da sua família, outra coisa équerer fazer o mesmo ajuste quando o seu caixa está apertado.Aí tudo mundo na sua casa vai reclamar muito”.