Cerca de 70 movimentos lutam pela terra no Brasil hoje, diz professor

22/02/2008 - 7h39

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Quando se fala em ocupação de terra no Brasil, o primeiro nome associado, geralmente, é o do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. No entanto, existem hoje no país 68 movimentos de sem-terra, catalogados no banco de dados do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (NERA), coordenado pelo geógrafo e professor Bernardo Mançano Fernandes, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Presidente Prudente.“Temos hoje quase sete dezenas de movimentos que lutam pela terra no Brasil”, disse o professor, em entrevista à Agência Brasil. Segundo ele, a maior parte desses movimentos surgiu de forma original, mas há aqueles que surgiram de dissidências de dois antigos movimentos de camponeses: a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), fundada em 1963, e o MST, surgido por volta de 1978, e realizou seu primeiro Congresso em 1984.“Em 1995 começaram a surgir dezenas de movimentos sem-terra no Brasil afora, muitos deles dissidências do MST, outros dissidências da Contag e, outros ainda, dissidências de dissidências. Mas a maior parte deles nasceu de forma original e não de dissidências”, explicou.Na opinião de Fernandes, ter no nome a expressão “sem terra” talvez seja uma das explicações para a confusão da mídia nacional ao atribuir qualquer ocupação ao MST. O fato é que há outros grupos ocupando terras no Brasil e que não são, necessariamente, ligados ao MST. “Fizemos uma sistematização do número de ocupações dos últimos 20 anos e o MST ocupa 50% das ocupações no Brasil. Então, o MST aparece na mídia porque ele é o mais atuante”.Para o MST, a “existência de diversas entidades” é natural e elas surgem por causa da pobreza e da desigualdade no campo. “A maioria dessas organizações, diferente do que se supõe, não são dissidências do MST, mas entidades que optaram por diferentes formas de organização interna, princípios e formas de luta”, informou o MST à Agência Brasil.“A dissidência ocorre principalmente por causa dos princípios. Os movimentos sindicais e camponeses têm princípios, diretriz política. Muitas vezes, os próprios militantes que estão dentro do movimento discordam dessas diretrizes e criam outros movimentos. Em outras vezes, esses movimentos são originais: são grupos de famílias que inauguram a experiência de ocupação e constroem um movimento que depois se duplica, se triplica, por causa da própria demanda que existe pela reforma agrária”, disse o professor.Segundo Fernandes, essas dissidências são resultado do “aumento da demanda da luta pela terra” e não da diminuição ou enfraquecimento, por exemplo, dos dois mais antigos movimentos sem-terra do Brasil. Essas dissidências, de acordo com ele, também são indicativos de democracia. “As lideranças que faziam parte do MST e que deixaram de fazer parte das instâncias políticas ou da estrutura política do movimento e que foram criar outros movimentos, ampliaram a luta. O movimento sem-terra não diminuiu”.