Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Uma pesquisa a ser divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta a Região Nordeste como a que mais utiliza o mecanismo do microcrédito em benefício de pequenos empreendedores.Elaborado a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo Microcrédito: o Mistério Nordestino constatou que a obtenção de empréstimos por essa modalidade saltou de 3,97% para 6,27% nos três meses anteriores à realização da pesquisa. Em outras áreas urbanas do país o aumento foi de 5,34% para 5,99%.Na avaliação do chefe do Centro de Políticas Sociais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Marcelo Néri, grande parte da expansão do microcrédito na região pode ser atribuída ao CrediAmigo, adotado pelo Banco do Nordeste há dez anos e voltado para famílias carentes.“Existe a idéia de que o microcrédito no Brasil não dá certo, porque é um país muito urbano e o microcrédito é uma experiência rural, mas o CrediAmigo desmente isso – já representa 65% do mercado doméstico da modalidade. É uma operação que não envolve custo fiscal, pois é um empréstimo; a taxa de inadimplência é relativamente baixa, de 2%; e o programa ainda dá lucro de R$ 50 por cliente ao ano", informou Néri.Para o economista, é “surpreendente” o fato de o programa ter se mostrado sustentável ao longo dos anos em uma das regiões mais pobres do país. “Chama a atenção o impacto na vida e nos negócios dos beneficiados: há melhoras nos ativos das famílias, no faturamento dos negócios, no lucro e, portanto, na renda que as pessoas levam para casa – com reflexos no consumo das famílias e na dependência a outras fontes de renda, inclusive as oficiais", acrescentou.Néri lembrou que o crédito no Nordeste vem ultrapassando o resto do país, para os pequenos tomadores, com ganhos de faturamento e lucros em torno de 30%, entre o primeiro empréstimo, em 1998, e a posição desses tomadores em dezembro de 2006: “A probabilidade de se obter empréstimo para se tornar um pequeno empresário no Nordeste é hoje bem maior do que em uma cidade fora da região – inclusive nos grandes centros urbanos.”Ele defendeu que "o programa, que usa a mesma metodologia que deu o Prêmio Nobel da Paz de 2006 ao Grameen Bank e a seu fundador, Muhammad Yunus, de Bangladesh, deve ser ampliado em escala nacional – hoje atinge menos de 6% dos pequenos negócios no Brasil e existe um potencial para crescimento, explicado pela invasão do segmento por grandes bancos nacionais e estrangeiros".