Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Um curso superior e um emprego são as duas coisas que Marisa Gomes da Silva, 30 anos, acredita serem importantes para conseguir sustentar seus três filhos. Há quatro anos em uma penitenciária do Complexo de Bangu, ela faz planos para a liberdade: “Pretendo sair daqui terminar meus estudos e fazer engenharia elétrica. Aos poucos vou me reestruturar para sustentar meus filhos”.Quando conseguir a liberdade, talvez neste ano, Marisa já sabe que vai enfrentar o preconceito e a falta de qualificação. “Sabemos que o mercado lá fora exige muito. Sem isso aí [estudo] não somos nada. Se para quem tem é difícil imagine para nós”, ressalta.Marisa não completou o ensino fundamental e na penitenciária onde está – Joaquim Ferreira de Souza – a educação termina na alfabetização. Não existem aulas para os demais níveis. Para quem quer aprender um pouco mais a alternativa são os cursos de artesanato, pintura e bordado.A falta de qualificação profissional é o problema que mais dificulta o ingresso de ex-detentas no mercado de trabalho, de acordo com a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.Para Lemgruber, o problema está nos cursos oferecidos nas penitenciárias, que há décadas são os mesmos.“Em geral, no mundo inteiro, as mulheres fazem aulas de artesanato, cursos de cabeleireiro, manicure, corte e costura ou bordado. É a mesma coisa há 30 anos”, destacou.A socióloga acredita que esses cursos podem ser importantes como terapia, mas são insuficientes para garantir um emprego: “A mulher fica na cadeia e não aprende nada de novo. Acaba mantida naquela visão antiga de se limitar a atividades de dona de casa”.Para contornar o problema, a especialista sugere cursos de informática, línguas e a obrigatoriedade do ensino fundamental e médio dentro das cadeias femininas. Além disso, parcerias com empresas ou órgãos que pudessem ensinar como ter o próprio negócio.Segundo a psicóloga Márcia Badaró, sem formação profissional nem emprego digno, qualquer perspectiva de ressocialização da mulher presa entra em risco. Para sustentar as famílias, as ex-detentas podem voltar a cometer crimes.“Quando saem da cadeia, as mulheres arrebanham seus filhos espalhados e procuram um emprego; o que muitas vezes lhes é negado. Com isso, não têm alternativa, a não ser correr o risco de ganhar mais R$ 50 ou R$ 100 no tráfico de drogas”, explica.Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária do estado, a maior parte das mais de mil detentas da cidade do Rio de Janeiro foram condenadas por tráfico de drogas. Elas são conhecidas como mulas – intermediários que transportam pequenas quantidades de droga para os verdadeiros donos. O segundo crime mais comum é o assalto a mão armada.