Distância da família representa punição adicional para presas

27/01/2008 - 19h14

Isabela Vieira*
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Depois de quatro anos sem se ver, um adolescente que cumpre medida socioeducativa e uma mãe, detida no Complexo de Bangu, tiveram, há duas semanas, seu primeiro reencontro. No último dia 15, Solange dos Santos esteve com o filho de 16 anos, internado na rede do Departamento Geral de Ações Sócio Educativas (Degase), no Rio de Janeiro.O menino morava com a avó, mas depois de ter sido preso não recebeu visita de nenhum familiar. O Degase decidiu então, procurar pela mãe do adolescente, encontrada um mês depois na cadeia. Esse foi o primeiro reencontro entre uma mãe presa e um filho interno no estado do Rio.A Agência Brasil não pôde acompanhar a visita. Enquanto mãe e filho matavam a saudade, Mirene Moura da Silva, diretora da Penitenciária Joaquim Ferreira de Souza, onde Solange está, disse que a maioria das 218 internas do local, independentemente da idade, reclamam do mesmo problema: a distância da família.“Quase todas elas são mães. Sofrem com a distância”, disse. “Elas reclamam porque os filhos estão abandonados, sem atenção ou passando necessidade. Eram elas que sustentavam seus filhos”. O abandono familiar e o afastamento dos filhos não são evidentes em penitenciárias masculinas, mas estão entre os principais problemas das mulheres encarceradas e podem atrapalhar na ressocialização das detentas.Para o coordenador geral do Núcleo de Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro, Eduardo Quintanilha, defensor público há sete anos, a situação implica uma segunda pena para a mulher. “O homem encarcerado, em regra, tem um apoio familiar muito grande, A mulher acaba perdendo o marido – que muitas vezes já a abandonou ou está preso - e tem dificuldade de ter acesso aos filhos”.Não há pesquisas precisas sobre o assunto, mas a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, acredita que o abandono da família é motivado pelo preconceito social. “Quando uma mulher comete um crime é vista por ter rompido a ordem em dois níveis”, afirma. Lemgruber explica que no primeiro, a mulher infringe uma lei. No segundo, a “ordem da família”. “É esperado de uma mulher é que ela seja dócil, boa mãe e cuide bem do lar”, criticou.Outro fator que influencia o afastamento das famílias, na opinião da diretora Mirene Moura, é distância das penitenciárias do local de residência dos familiares. “Muitas não recebem visita. Essa é a verdade. O número familiares que vêm é muito pequeno. Normalmente a mãe e a irmã. O marido vem muito pouco”, disse. “As visitas dizem que têm dificuldades para fazer o cadastro, que não tem dinheiro para tirar foto, cópia de documentos ou comprar a passagem para chegar aqui [Complexo de Bangu]”.