Zoneamento agroecológico é aguardado para disciplinar expansão da fronteira agrícola

23/12/2007 - 23h01

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Na opinião deambientalistas e representantes do setor agropecuário, oBrasil já está atrasado na definição deuma política de zoneamento que determine regras para controlara expansão produtiva e orientar investimentos. As normas estãosendo elaboradas pelo governo federal e a expectativa é de quesejam concluídas e anunciadas ao longo do ano que vem.O ex-ministro daagricultura Roberto Rodrigues, que hoje preside o Conselho deAgronegócio da Federação da Indústrias doEstado de São Paulo (Fiesp), evita a palavra atraso, mas admiteque o ideal seria o zoneamento já estar pronto para apontaráreas e balizar investimentos. A razão para a falta deantecedência seria uma só: “Faltou dinheiro. É uma coisa cara,não é singela. Faltaram recursos financeiros, decisãopara fazer acontecer”, afirmou Rodrigues, em entrevista à AgênciaBrasil. Para Rodrigo Justus,assessor técnico da Comissão de Meio Ambiente da Confederação da Agricultura e Pecuária doBrasil (CNA), a falta de zoneamento tem consequências graves emum país com as características do Brasil. “Temos omaior estoque de terras férteis do mundo e também omaior estoque da biodiversidade. Conciliar isso não éuma tarefa fácil”, disse Justus, em entrevista coletiva daCNA sobre o balanço da produção agropecuáriaem 2007 e as perspectivas para 2008. Segundo Justus, alegislação brasileira tem aspectos únicos emrelação ao mundo, como a proibição dasculturas de café e uva em áreas com inclinaçãoacima de 25 graus. “Os produtores brasileiros perdem terreno para osde outros países. São tiros no pé dadosinternamente, que precisam ser resolvidos.” O Greenpeace considerao zoneamento fundamental para disciplinar a ocupaçãoda Amazônia, mas avalia que ele não será feitocom a presteza exigida pela situação. “O governofederal não elegeu o zoneamento como peça importante desua atuação na região. Hoje já há um avançona retomada do desmatamento na Amazônia”, afirmou àAgência Brasil o coordenador de políticas públicasda organização não-governamental, SérgioLeitão. Para ele, o zoneamento deve serimpositivo e argumenta que políticasmeramente indicativas de conduta não funcionam para “domar”atividades econômicas com forte apelo de lucratividade. “Oque falta na Amazônia é comando e controle. FaltaEstado, políticas públicas e polícia, para quea região não seja vista como terra de ninguém,onde tudo é possível. 80% das terras da Amazônia são públicas, mas griladas”.Um zoneamentoespecífico da produção de cana-de-açúcarem todo o Brasil está sendo planejado pela Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com outrasinstituições, como a Companhia Nacional deAbastecimento (Conab), Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE), Universidade de Campinas (Unicamp),secretarias estaduais de agricultura e meio ambiente, dentre outras.A previsão de conclusão é para outubro de 2008. “Os trabalhos serão publicados por estados, abrangendo todosos municípios. Esperamos que até o meio do ano que vemtenhamos grande parte dos estados com zoneamentos elaborados”,informou Celso Manzatto, pesquisador chefe-geral da EmbrapaSolos, em entrevista à Agência Brasil. O pesquisador doInstituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), NiloDávila, lamenta que o zoneamento não tenha sido feito“antes de todo o apoio político à produçãoda cana, com o presidente Lula fazendo papel de mercador do etanolbrasileiro”. A CNA sustenta que oBrasil tem áreas degradadas e subutilizadas suficientes paraserem reincorporadas ao processo de produção eaumentarem em até 5 vezes a produção do etanol, sem derrubar uma árvore da floresta ou até mesmo fazerexpansões sobre o cerrado nativo.