Condição de trabalhadores ainda arranha imagem da produção canavieira do Brasil

23/12/2007 - 23h20

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Enquanto bate seguidos recordes de produtividade, a cultura da cana-de-açúcarno Brasil ainda não conseguiu se desvincular de denúncias, mesmo que inconstantes, de exploração da mão-de-obraem condições precárias, com alta carga detrabalho, baixos salários, alimentação ruim,alojamentos e equipamentos inadequados para os trabalhadores. A lei prevêjornada semanal de 44 horas de trabalho, mas segundo a ConfederaçãoNacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), muitosbóias-frias seguem trabalhando até 12 horas por dia. Osalário de um bom cortador chegaria a R$ 600,00 e haveriaexcesso também no desempenho exigido.“Em 1992, um cortadorcortava de 3 a 6 toneladas por dia. Hoje esses mesmos sãoobrigados a cortar pelo menos 10 toneladas, senão ficam sememprego. Se respeitassem a lei, o trabalhador cortaria cana por maistempo e viveria com dignidade”, afirmou o secretário deAssalariados Rurais da Contag, Antônio Lucas Filho. A entidade calcula aexistência de pelo menos 800 mil cortadores de cana no Brasil e avalia que a modernidade realçada pelo setor não sesustenta nas relações de trabalho. Os danos para a imagemdo mercado produtivo do Brasil no exterior são reconhecidos ementrevista à Agência Brasil pelo presidente do Conselho doAgronegócio da Federação da Indústrias doEstado de São Paulo (Fiesp) e membro da ComissãoInteramericana de Etanol, Roberto Rodrigues. Ele ressalva entretanto,que as práticas criticadas são isoladas. “Infelizmenteminorias insignificantes de empresários fazem coisas erradas àmargem da lei, produzindo uma imagem negativa para todo o setor, masa grande maioria trabalha dentro das normas legais. Qualquer notícianegativa produz efeitos nefastos”, disse Rodrigues, ao alegar que instituiçõese empresas que não têm interesse no progresso brasileiro usamas denúncias para fazer campanha contra investimentos nopaís. A mecanizaçãodo corte é uma tendência natural do setor. Háinclusive decretos federais e estaduais determinando um prazo de seisa 12 anos para isso. A Contag já encaminhou ao presidenteLuiz Inácio Lula da Silva um pedido para que o governo implemente um programa decapacitação para direcionar os trabalhadores a outrasatividades no campo ou na cidade. Roberto Rodrigueslembra que a mecanização, por condiçõestopográficas, não poderá entrar em 100% da áreacultivada com cana. E tem  uma sugestão para os 7% a 10% daárea que se enquadrariam neste caso. “ Seria interessanteprojetos que estimulassem os agricultores dali a plantarem frutas ,flores, orgânicos, árvores seringueiras. Isso reduziriaa concentração da cana, daria ao trabalhador umaatividade mais nobre e agregaria valor à cadeia como um todo,porque tanto o produtor quanto o trabalhador teriam melhorremuneração”.