Governo e arrozeiros vêem conflito iminente na Terra Indígena Raposa Serra do Sol

22/11/2007 - 6h34

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesar dos apelos do governo estadual e de senadores de Roraima para quea União chegue a um acordo com os arrozeiros que ocupam a Terra Indígena RaposaSerra do Sol, a fim de evitar uma retirada forçada, o entendimento permanecedistante entre as partes.  De lado alado, a possibilidade de confronto violento é cada vez mais real.

“O governo federal tenta negociar com os arrozeiros desde o momento dademarcação, mas eles se negam e colocam como condição a revisão da extensão dasterras demarcadas. E nisso não vamos retroceder”, afirmou à Agência Brasil JoséNagib Lima, assessor especial da Casa Civil e responsável pelo comitê gestor deprojetos do governo em Roraima. A operação de desintrusão a ser realizada pelaPolícia Federal deve ocorrer ainda em 2007, segundo Nagib, prevendo reaçõesagressivas de fazendeiros.

Homologada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 15 de maio de2005, a área tem 1,74 milhão de hectares . Cerca de 18 mil indígenas ocupam aárea no nordeste de Roraima, onde também se concentram grandes produtores dearroz, que confirmamdisposição para permanecer lá.

“Não temos outra opção. Pessoas que saíram de lá estão emcondições subumanas e até morrendo de fome. Temos que resistir ou seremosexterminados”, disse Paulo César Quartiero, presidente da Associação deArrozeiros de Roraima. Ele alega que pequenos agricultores estão sendotransferidos para terras ruins, sem estrutura necessária para produzir. Diztambém que muitos índios trabalham nas lavouras e não seriam favoráveis àretirada: “Pode acontecer alguma violência, ou não. Isso envolve o sentimento ea emoção de brasileiros que estarão sendo colocados para correr dentro dopróprio território nacional”.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) cadastrou 391 famílias e produtorespara reassentamento em uma área no município de Caracaraí, a 150 quilômetros deBoa Vista. Mas para Quartiero, o dinheiro gasto com indenizações deveria teroutra utilidade : “Se têm terra e dinheiro para reassentar os arrozeiros,porque não pegam o dinheiro e botam nossos bravos indígenas para produzir esair da linha de miséria. Para que fechar uma coisa para transferir paraoutras”?.  

Nagib Lima informou que o objetivo do governo federal é estimular um projeto deecodesenvolvimento na Raposa Serra do Sol, privilegiando as culturas (pecuária, psicultura, agricultura) escolhidas pelas comunidades. “Aestimativa inicial é aplicar R$ 3,5 milhões até o fim de 2008, valor que podeser acrescido por emendas parlamentares”, disse Nagib. Participariam dostrabalhos o Ministério do Desenvolvimento Agrário, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e demais órgãosfederados de Roraima, além das administrações estadual e municipais.Quartiero argumenta que a viabilidade econômica epolítica do estado estaria em jogo: “Eu acho que a força política tem quereagir contra a nossa retirada, porque a existência de Roraima está ameaçada.Eles [políticos locais] tem que fazer alguma coisa até para garantir suareserva de mercado, seus empreguinhos”. A produção de arroz responde atualmentepor cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB, a economia) de Roraima, segundo informou o senador Augusto Botelho(PT-RR), contrário à saída dos agricultores brancos da Terra IndígenaRaposa Serra do Sol.