Gláucia Gomes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Por seis votos a um, aComissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do ApagãoAéreo do Senado rejeitou hoje (31) o relatóriofinal do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e aprovou votoem separado apresentado pelo senador JoãoPedro (PT-AM), da base aliada ao governo. O relatório do senador petista mantémo pedido de indiciamento da ex-diretora da Agência Nacional deAviação Civil (Anac) Denise Abreu, mas exclui nove das23 pessoas de quem o relator Demóstenes Torres pedira o indiciamento.
Entreos poupados pelo relatório da base aliada estão o deputado Carlos Wilson (PT-PE), ex-presidente daEmpresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), além dos ex-diretores da empresa Eleuza TerezinhaManzoni, Fernando Brendaglia e JoséWellington Moura, da ex-funcionária Márcia Gonçalves Chaves e do procurador da Anac, Paulo Roberto Gomes de Araújo.
Embora tenha considerado oresultado frustrante, Demóstenes Torres disse que o trabalho da CPI vai serencaminhado ao Ministério Público e à PolíciaFederal para contribuir no combate à impunidade. “Eusaio frustrado, porque meu resultado foi jogado fora. Trêspessoas [Fernando Brendaglia, Márcia GonçalvesChaves e José Wellington Moura], demitidas pelo própriogoverno por corrupção, foram absolvidas aqui. Ficaram ospés-de-chinelo - lamentavelmente, os tubarões foramlivrados e as sardinhas, apanhadas.”
Para o relator da CPI, a retirada o nome de Carlos Wilson foi uma articulaçãodo governo, já que “a base só se reuniu aqui [nacomissão] duas vezes. A primeira, para impedir a quebra dos sigilos dosenhor Carlos Wilson, e a segunda vez, hoje, para livrá-lo dorelatório.”
Osenador João Pedro explicou que, nos dois primeiros relatórios,houve consenso nas votações, mas que depois vieram asdivergências que provocaram a apresentação dovoto em separado. “Votamosconsensualmente os dois primeiros relatórios, não houvenenhum problema porque ele tinha um foco bem técnico. Noterceiro relatório, que fez com que eu apresentasse esse votoem separado, mudou sensivelmente o foco. A politizaçãoestá nisso, em tentar jogar nas costas do Carlos Wilson toda aresponsabilidade desta crise."
João Pedro ressaltou que seu relatórioleva em consideração muitos aspectos do parecer dorelator Demóstenes Torres. "Evidentemente, tem pontos dedivergência. Isso é natural na Casa, é natural naCPI. E aí o voto decide, nem por isso éantidemocrático”, disse ele.
Opresidente da CPI, Renato Casagrande(PSB-ES), afirmou que o relatório do senador JoãoPedro tem pontos positivos, porque,segundo ele, o parlamentar incorporou parte do relatório de Demóstenes Torres a sugestões de projeto delei, sugestões para a Infraero e a Anac. “Agora,infelizmente, toda CPI estabelece uma disputa entre a base aliada ea oposição, e essa disputa acaba deixando o relatóriomanco. Pessoas que precisavam ser indiciadas não foram,pessoas que foram indiciadas não precisavam ser. Então,infelizmente o resultado não é aquilo que a genteesperava.”
ParaCasagrande, foi um resultado “ruim” para a CPI do ApagãoAéreo. Ele se referia ao fato de senadores da oposição terem se retirado da sala depoisque o senador Agripino Maia (DEM-RN) solicitou o adiamento da votação. Agripino alegou que o PDT tinha cedido a vaga de titular da CPI para o Democratas e que o partido precisava indicar um nome para participarda votação. Casagrande indeferiu o pedido. Agripino e mais quatro senadores se retiraram dareunião antes da votação do relatório.