Ruralistas só votam PEC quando for definido o que é trabalho escravo, diz deputado

24/10/2007 - 6h48

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente da Comissão de Agricultura,Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmarados Deputados - responsável por áreas ligadas àquestão fundiária como a reforma agrária -deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), que é agrônomo, dizque a orientação dos ruralistas é de sóvotar a PEC quando estiver clara a definição detrabalho escravo. “Somos contra o trabalho escravo”, ressalta.“Mas temos que saber exatamente o que aqueles que colocaram esseprojeto em pauta querem dizer com trabalho escravo”. Segundo o deputado, a bancada teme que aconceituação do tema, fique “nas mãos defiscais” dos Ministério do Trabalho e Emprego, “muitasvezes conduzidos ideologicamente” e que podem não terparâmetros para fiscalizar as propriedades. “Nãopodemos concordar que não ter um restaurante azulejado com umcozinheiro especializado dentro da fazenda é trabalhoescravo”, diz. Para ele, a prática está aliada aotrabalho forçado, com privação de liberdade edesrespeito às leis trabalhistas. “Colocada a definiçãono projeto está resolvido o problema”.Já para o cientista políticoLeonardo Sakamoto, o problema para a oposição dabancada ruralista a matérias relacionadas à reformaagrária está no corporativismo para favorecer a“estagnação social do campo”. Embora avalie que osruralistas são contra o trabalho escravo, explica que osparlamentares não defendem instrumentos legais contra aprática. “Eles acabam lutando contra, defendendo osescravagistas, não porque querem que o trabalho escravocontinue, mas porque querem que a propriedade rural continueintocada”, afirma.Segundo ele, a posse de grandes extensõesde terras no Brasil está ligada ao controle dos meios deprodução e, portanto, à possibilidade de gerarriquezas. “Com isso, a capacidade de deter o poder econômicoe político”, acrescenta.Em junho, Sakamoto apresentou uma tese dedoutorado na Universidade de São Paulo explicando como otrabalho escravo é utilizado para aumentar o lucro dosempresários. No estudo, aponta que agropecuaristas listados nocadastro de empregadores autuados com trabalhadores escravos peloMinistério do Trabalho financiaram candidatos na campanhaeleitoral de 2002. Entre eles, governadores, deputados federais eestaduais.