Ana Luiza Zenker
Da Agência Brasil
Brasília - Desde a década de 1990, o comércio automobilístico entre o Brasil e a Argentina é regulado por acordosque buscam equilibrar o fluxo de veículos entre os dois paísesaté chegar ao livre comércio.Noentanto, o prazo para que isso ocorra tem sido adiado a cada renovação do acordo, pois a Argentina temeque suas indústrias do setor sejam prejudicadascom isso.Para o economista argentino Juan Carlos Deheza, as dificuldades decorrem, essencialmente, da disputa por investimentos estrangeiros nosetor. “Os dois países têm plataformas automotivas ebrigam por investimentos das montadoras”, disse em entrevista àRadiobrás.Ele lembra que o mercado brasileiro de automóveis émaior que o da Argentina - entre quatro e setevezes maior. “Como a indústria automotiva é umaindústria onde a escala é um elemento significativo, osmaiores investimentos vêm para o Brasil”.Para o economista, esse não é o maiorproblema. Na disputa por investimentos, eleressalta os incentivos fiscais que os estados brasileiros podem conceder a empresas para que elas instalem fábricas emseu território.“Na Argentina isso não acontece. Eunão estou falando que o sistema argentino seja melhor que obrasileiro, estou falando que as regras do jogo têm que serúnicas”.Deheza explica que os efeitos de uma montadora instalada em um local vão alémdo montante de investimentos em si. Ele diz que há impactos nacriação de empregos, na produção de peçase também no desenvolvimento tecnológico, uma vez que“os carros novos estão cada vez com maiores doses detecnologia”.“A Argentina não pode se resignar a ser simplesmente umfornecedor de peças para os carros que serão montadosno Brasil”, diz.Na avaliação dele, para a integração econômicaprevista no Mercosul, essa disputa por investimentos não deveria existir. “Emalgum momento tem que ser resolvido, e provavelmente a decisãonão seja tanto econômica quanto política, porquese o Mercosul vai funcionar e vai para frente esse tipo deproblema tem, necessariamente, que ser resolvido”.O comércio de automóveis entre Brasil e Argentina éregulado desde 1990 pelo Acordo de ComplementaçãoEconômica nº 14 (ACE 14), que trata também docomércio de outros produtos, como trigo e produtosalimentícios industrializados.O ACE 14 serviu de referencialpara o Tratado de Assunção, que criou o Mercosul.Desde então, o acordo é regido por acordos adicionais.Como o mercado livre, previsto para 1º de janeiro de 2006, nãose confirmou, novosacordos provisórios foram aprovados, até o 35ºprotocolo adicional, válido até 30 de junho do anoque vem.Particularmente no caso dos automóveis, esses acordostêm o objetivo de equilibrar a balança comercial dessesprodutos entre os dois países.Entre janeiro e setembro de 2007, por exemplo, segundo dados doMinistério do Desenvolvimento, Indústria e ComércioExterior, o Brasil exportou para a Argentina cerca de US$ 1,3 bilhãoem carros com capacidade para até seis pessoas e importou cerca de US$ 780 milhões. No mesmo período de2006, os valores foram, respectivamente, de cerca de US$ 1,03 bilhão eUS$ 513 milhões.