Controlar sífilis congênita requer esforço da gestante e do parceiro, avalia especialista

24/10/2007 - 18h43

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O controle da contaminação de recém-nascidos por sífilis é ainda mais complicado do que o monitoramento de casos de HIV nesse mesmo público. A avaliação é da diretora do programa DST/Aids, do Ministério da Saúde, Maria Ângela Simão.

“A sífilis, diferente do HIV, precisa ser diagnosticada durante agravidez", afirmou. De acordo com a especialista é necessário que o casal procure para combater a doença.

Segundo ela, um dos problemas mais comuns está ligado ao fato de que a mulher grávida faz o primeiro teste, detecta a doença, mas não faz o acompanhamento.

Outro agravante para a situação é a recusa,por parte do parceiro, em tomar os medicamentos necessários para combater a sífilis. Segundo Maria Ângela, 83% dos parceiros de mulheres grávidas não são tratados no Brasil.

“Muitas vezes ela étratada e o parceiro não é tratado. Há um risco de reinfecção, porqueela mantém relações sexuais durante a gravidez. Aí, ela nãofaz o segundo teste e não é detectado”.

A especialista afirma que, com tratamento adequado, aumentam-se as chances de eliminar a sífilis congênita. “Na medida em que você faça o diagnósticodurante a gravidez e trate com um medicamento de baixo custo, que é apenicilina, é possível eliminar a sífilis congênita”, concluiu.

A prevalência da sífilis na gestante é quatro vezes maior do que os casos de HIV.  Segundo a diretora do DST/Aids, 0,4% das gestantes no Brasil são HIV positivas. No caso dasífilis, o índice é de 1,6%. “Isso parece pouco mas dá em torno de 12mil gestantes por ano. E apenas 6 mil são detectadas [com sífilis]”, destacou Maria Ângela.

A especialista afirma que o problema está na falta de conscientização. “Falta um maior empenho dos profissionais de saúde. Falta uma conscientização das gestantes. De exigir todos os testes na gestação, que incluem os dois VDRL para sífilis e o teste do HIV. Também falta uma conscientização dos parceiros. Eles têm responsabilidade nessa questão com a saúde da criança que vai nascer”.

A sífilis pode provocar aborto ou morte neonatal. A doença pode causarainda seqüelas no bebê como surdez ou disfunções neurológicas.

No Brasil, já existem dois testes rápidos produzidos nacionalmente para detecção do HIV. Já os testes rápidos para detecção da sífilis congênita ainda estão sendo implantados.

“No caso da transmissão vertical do HIV, se a gente não fizer nada, 25% das gestantes HIV positivas vão transmitir [para o recém-nascido]. Se a gente tomar todas as medidas, fazer o diagnóstico, fazer a profilaxia com o anti-retroviral, dar medicamento pro bebê, inibir a lactação e em alguns casos fazer a cesária, você consegue reduzir isso pra menos de 2%”, disse a diretora.

De acordo com o último Boletim Epidemiológico, foram registrados no Brasil 1.091 casos de transmissão vertical de HIV em 1996. Em 2005, o número caiu pra 530. Já em relação à sífilis congênita, estima-se que o país possui, atualmente, 12 mil casos. Em 2005, apenas 5.710 ocorrências da doença foram registradas.