Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A decisão de suspender a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego sobre o uso de mão-de-obra em condições análogas à de escravos "não é necessária”, na opinião de um dos donos da empresa Pará Pastoril Agrícola (Pagrisa), Fernão Zancaner.“Estamos levantando a necessidade de uma investigação em torno de um fiscal e de uma fiscalização específica. Não entendo por que bloquear todas elas”, disse Zancaner. Na sexta-feira (21), a Secretaria de Inspeção do Trabalho, do ministério, suspendeu por tempo indeterminado essa fiscalização em todo o país. A decisão foi tomada após “recente desqualificação”, segundo a secretária Ruth Vilela.No final de junho, foram resgatados 1.108 trabalhadores em condições análogas à de escravos na fazenda Pagrisa, que fica a 450 quilômetros de Belém, segundo o Ministério Público do Trabalho. Foi a maior libertação de trabalhadores no país.O dono da fazenda, no entanto, apontou “erros graves” durante a fiscalização. Para ele, vários abusos foram cometidos, mas Zancaner não os citou.Já a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), relatora da Comissão Temporária Externa do Senado que apura as denúncias, questionou a rapidez com que a fiscalização autuou a fazenda e o número recorde de trabalhadores libertados. “Nós não conseguimos ver nada que pudesse parecer com trabalho escravo. Todos [os funcionários] estavam com carteira assinada, cartão magnético e conta em banco. Nunca vi escravo assim”, afirmou Abreu, que esteve na Pagrisa na última quinta-feira (20), dois meses após o flagrante do Ministério do Trabalho.Ontem (24), em entrevista à Agência Brasil, a senadora disse que a Comissão não vai “parar de trabalhar” porque a fiscalização foi suspensa: “É problema deles [da Secretaria de Inspeção ao Trabalho] se querem suspender o trabalho. Vamos continuar com o nosso, normalmente. Não estamos fazendo nada que não seja da nossa alçada”.